domingo, 30 de junho de 2024

António Nobre - Vaidade, Tudo Vaidade


VAIDADE, TUDO VAIDADE!

Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm.

Vaidade é o luxo, a glória, a caridade,
Tudo vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua mãe…

Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com minha escuna,
E ninguém me valeu na tempestade!

Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, vê lá! eu volto-lhes o rosto…
E isto em mim não será uma vaidade?

António Nobre (1867-1900) foi um poeta português do século XIX. “SÓ” foi o seu único livro que nos mostra um homem assombrado pela morte. Morreu tuberculoso em Paris.

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