Era sempre de noite que chegávamos
como num sonho antigo, erva crescendo
entre faróis acesos e a lua
Todos sorriem nesse calendário
de páginas iguais umas às outras
e a solidão dos anos trás ainda
a este pátio as vozes esquecidas:
primos que nunca soube de onde vinham,
almoços e jantares e um fumo alegre
subindo na penumbra da cozinha.
Hoje o outono desce lento e frio
sobre ruínas de alma e alguns prédios
construídos agora na encosta.
Que silêncio é este? Que palavras
resistem ao murmúrio desta morte?
Um cão que ladra sob um céu de infância,
as sombras de ninguém longe de mim.
Nota: Do livro FOLHAS, LETRAS & OUTROS OFÍCIOS 21,
do Grupo Poético de Aveiro