Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo II do Tempo Comum
A festa de um casamento oferece a Jesus a oportunidade de iniciar a série de sinais da novidade da sua missão. Sete são apontados por João evangelista como especialmente significativos, mas confessa que há muitos outros. Todos e cada um manifestam, à saciedade, o seu amor de incondicional doação, a paixão constante de doação por um mundo novo.
“Há muito a fazer no interior da Igreja, no campo laboral, também”, afirma D- António Francisco, convidando a comunidade católica a “denunciar-se a si própria quando não é capaz de viver aquilo que a Doutrina Social da Igreja propõe e impõe”. O responsável lamentava a falta de atenção para situações em que as famílias são “fragilizadas” na sua vida, pedindo uma maior “proximidade” por parte das comunidades católicas pela “família no seu todo”, entrevista à Ecclesia, preparando as Jornadas Nacionais dedicadas à "Família e Transformação Social".
O cardeal Gracias apresenta o seguinte testemunho que a Unissinos publica a 21Set2017. Tom, padre indiano, sequestrado e trazido para Roma, no encontro com o Papa:
"Obrigado, obrigado, obrigado. Obrigado, Santo Padre, mas só quero dar uma mensagem: Jesus Cristo é maravilhoso. Jesus estava comigo, eu sentia a presença de Deus comigo'... E cheguei a pensar que havia lágrimas nos olhos do Santo Padre. Quando Tom continuou falando sobre Jesus, o que disse ao Santo Padre foi: por favor, fale às pessoas que Jesus é maravilhoso!
Eu diria que ele saiu com uma experiência da presença do Senhor e acho que naquele momento havia lágrimas nos olhos do Santo Padre... Encontrei o Santo Padre naquela tarde e ele disse o quanto estava impressionado. Também ficou surpreso com sua calma, com Tom... É um homem cuja fé pode ter-se fortalecido depois dessa experiência, não é amargo por nada. Particularmente por seus algozes, demonstrava muita compreensão.
A boda dos noivos de Caná da Galileia é para Jesus a oportunidade de manifestar a relação do casamento natural com o amor de Deus pelo seu povo. A relação tem o valor de símbolo e a manifestação constitui o primeiro sinal da novidade que Jesus traz à realidade humana, conjugal e familiar. A oportunidade surge quando, no decorrer da festa, vem a faltar o vinho –o que provoca um certo desconforto entre os mais atentos e solícitos.
A mãe de Jesus está presente. Dá conta da ocorrência e, discreta, intervém junto de seu Filho, expondo brevemente a necessidade sentida. Dirige-se também aos serventes e recomenda-lhes simplesmente que façam o que ele disser. E a maravilha vai-se realizando: as talhas de pedra que estavam vazias, enchem-se; a transformação da água em vinho, acontece; o teste da prova faz-se e é conclusivo; a necessidade é superada; a serenidade vence a ansiedade; a alegria renasce e redobra de intensidade; o chefe de mesa convence-se e interpela, criticamente, o noivo; o vinho bom tinha chegado e era para ficar; a mensagem é captada e os discípulos acreditam. E João, o narrador do episódio, afirma que Jesus manifesta, assim, a sua glória, a missão de que estava incumbido por Deus Pai.
A missão de Jesus consiste em ser o amor humanizado de Deus que perpassa e se realiza, de forma especial, na atenção ao que acontece, na proximidade solícita e solidária para com os carecidos e aflitos, na valorização dos pequenos gestos, no diálogo interpelante, na alegria do convívio e da festa, na relação conjugal entre homem e mulher, no matrimónio conscientemente assumido e fielmente vivido.
Nas bodas de Caná, tudo aponta para este final feliz. Quem fica nos pormenores e perde a intenção de Jesus pode comparar-se a alguém que quer ver a lua, mas não tira o olhar do dedo de quem aponta a direcção em que ela se encontra. Por mais esforços que faça, nunca alcançará o que pretende e corre o risco de descrer da sua existência, apesar de observar o luar brilhante, em noites de céu límpido e estrelado. Assim, quem não alicerça o amor conjugal heterossexual na sua matriz original – a criação do homem e da mulher como seres em relação mútua e recíproca – e na bênção renovadora e reconfortante com que Jesus a enriquece e eleva.
A água e o vinho constituem os elementos materiais que visualizam esta novidade. São realidades normais da vida quotidiana: a água como elemento natural bruto; o vinho, como fruto “da terra e do trabalho humano”; ambos vão ser transformados, na eucaristia, em dons da salvação. Nas bodas de Caná, tudo é frágil e momentâneo, mas fortemente expressivo. Assim, no casamento, realidade humana sujeita a tantas tribulações, mas onde se serve, no dia-a-dia, o vinho da alegria e do perdão e se faz vida o amor de Deus em sentimentos de comunhão e gestos de doação e entrega.
O vinho de Jesus, servido nas boas de Caná, é a nossa alegria. Exultemos e vamos experimentar.
Pe. Georgino Rocha