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Quando celebramos o nosso aniversário à semana é sempre difícil reunir a família. Cada um tem os seus compromissos profissionais, ou outros, e o aniversariante vê-se obrigado a programar a festa, por mais modesta que seja, para o fim de semana mais próximo. Assim aconteceu comigo. Hoje foi dia de receber filhos e netos, embora nem todos pudessem comparecer, mas não deixaram de justificar a falta.
Nestes encontros fala-se muito. Todos têm histórias para contar, perguntas à espera de respostas, evocações para fazer. De permeio, há gargalhadas entre o que se come e bebe, sem abusos que a vida precisa de saúde. E no meio da alegria de todos, dei comigo a contar como descobri a minha mulher, a Lita, mãe e avó dos presentes. E alguém lembrou que eu era um gafanhão e ela uma pardilhoense, radicada em Aveiro. E como a descobriste? — perguntou um filho.
Os mais idosos, como eu e a Lita, gostam sempre de evocar pormenores das suas vidas, falando do essencial sem grandes conversas, até porque a memória tem lapsos compreensíveis. Mas deu para contar como descobri a Lita. E lodo adiantei: — Eu estava sem namorada, tal como ela, como pude confirmar mais tarde. E então resolvi avançar.
Um dia, o meu confidente e amigo, Padre Manuel Ribau Lopes Lé, convidou-me para o acompanhar a Pardilhó, onde havia comprado a duas senhoras um órgão para restaurar, já que ele tinha habilidade e arte para trabalhos dessa natureza. E lá fomos com um amigo comum, possuidor de uma carrinha adequada ao transporte. Passámos por Aveiro, para levar uma menina, sobrinha das duas senhoras, proprietárias do órgão. Em Aveiro, a referida menina vivia com outra tia, irmã das que venderam o referido órgão.
Sentado ao lado dela, lá fomos até Pardilhó, trocando olhares fugazes, como é normal. Depois de carregado o instrumento, as tias da Lita serviram-nos vinho do Porto. Os cálices estavam numa bandeja pequena, de que guardamos a base que a Lita, amorosamente, encaixilhou. Está na nossa sala de estar, à vista de quem chega.
As simpatias transformaram-se em grande desejo de me encontrar com ela. Procurei saber o seu nome. O resto era fácil: Av. Dr. Lourenço Peixinho. Tempos depois, que não consigo precisar, escrevi-lhe uma carta com proposta de encontro. Aconteceu no dia 8 de Dezembro de 1962, dia da festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, por sugestão da Lita. O nosso casamento aconteceu no dia 7 de Agosto de 1965. Até hoje, mas esperamos que perdure o tempo que Deus quiser.
Fernando Martins
Nota: Escrevo estas notas a pedido dos presentes, no almoço do meu aniversário.