diz que problema atingiu "grande expressividade" no passado
A Comissão Independente (Cl) para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal revelou no dia 11 de outubro, em conferência de imprensa, que validou 424 testemunhos, que apontam a um "número significativo" de abusadores entre 1950 e 2022.
Pedro Strecht, coordenador da Cl, disse aos jornalistas que o problema "atingiu uma grande expressividade", no passado, repetindo-se em padrões que "devem ser evitados no futuro". O pedopsiquiatra aludiu a "quadros graves existentes ao longo de décadas", sobretudo nas primeiras décadas em estudo, considerando que o problema assumiu "proporções verdadeiramente endémicas", com maior proporção de rapazes, de todos os pontos do país e das várias realidades sociais.
Segundo o responsável, na maioria dos casos "as vítimas esperam, ainda hoje, um pedido de perdão, diretamente formulado pelos próprios abusadores" e pela hierarquia católica em Portugal. Pedro Strecht recordou que a Cl sugeriu a "materialização" deste ato de perdão, tendo em vista a criação de um memorial, a cargo do arquiteto Siza Vieira, cabendo a decisão sobre a sua concretização à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
A Comissão Independente recolheu como válidos 424 testemunhos, em nove meses, entre eles oito casos enviados pelas Comissões Diocesanas.
O estudo do passado identificou o risco de repetição de situações com membros do clero ou institutos religiosos que foram "sucessivamente colocadas" em várias funções. Pedro Strecht precisou que os abusos "compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa" e que configuram crime público, estando a maior parte dos casos "juridicamente prescritos". Para o Ministério Público (MP) foram já enviados 17 casos e há 30 situações em estudo para "idêntico procedimento".
"O sofrimento das vítimas persiste", insistiu o pedopsiquiatra. O coordenador da Cl quis reconhecer "a coragem pioneira da CEP" e das pessoas que têm acompanhado as suas diretrizes, na luta contra os abusos sexuais.
O relatório final da comissão vai ser apresentado a 31 de janeiro de 2023, concluindo o trabalho no prazo previsto e acordado com a Conferência Episcopal Portuguesa. O documento vai integrar testemunhos até 31 de outubro, mantendo-se disponível para ouvir quem se lhe dirigir, após essa data.
Ag. Ecclesia