Reflexão de Georgino Rocha
para este fim de semana
Os discípulos de Jesus, ao verem o seu agir e a sua determinação em prosseguir a missão, apesar de todos os contratempos, sentem-se necessitados de mais fé para assumirem atitudes semelhantes e de maior confiança para enfrentar adversidades parecidas, surpreendentes. Querem ser coerentes e fiéis, mas o coração segreda-lhes algo que os ultrapassa. E surge a súplica que expressa a intensidade do seu desejo: “Senhor aumenta a nossa fé”. Lc 17, 5-10
Este modo de proceder manifesta que a fé brota do contacto com Jesus, da relação cordial com ele, do conhecimento da sua vontade, do envolvimento na sua paixão que não desiste de ir até ao fim. O amor a Deus Pai e a realização do seu projecto de salvação “comandam” todas as suas decisões e ousadias. Sem esta familiaridade com Jesus, a fé corre o risco de se desvirtuar, não tendo consistência nem autenticidade; corre o risco de se diluir e até desaparecer; corre o risco de dar lugar à indiferença e, mesmo, à hostilidade.
“Não nos tornamos cristãos com as nossas forças” – afirma o Papa Francisco, no Twitter. “A fé é, primeiramente, um dom de Deus que nos é dado na Igreja e através da Igreja”.
Jesus atende o pedido dos discípulos e reencaminha-o de modo surpreendente. “Se tivésseis fé, como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Arranca-te daí e vai plantar-te no mar, e ela obedecer-vos-ia”. O recurso ao grão, pequena semente, cheia de vigor, realça o contraste com o aumento pretendido. Não se trata de quantidades, mas de qualidade; não se trata de ter uma fé mais vistosa, mas de viver uma fé mais confiante e consistente.
Este é um tema que se destaca nos evangelhos: as discussões entre eles sobre quem era o primeiro, o mais importante. Se este era o ambiente que havia entre eles, como podiam ter uma fé firme em Jesus? Isto dá que pensar: os primeiros apóstolos deixaram a impressão de criam mais no poder e na glória do que no modo como viveu Jesus. Também somos assim? José M. Castillo, La Religión de Jesús, pág 375
A fé, que Jesus ilustra com a referida comparação do grão de mostarda, alicerça-se na Palavra de Deus que é sempre fiel e tem uma única medida: o vigor que a adesão cordial faz brotar no coração dos discípulos, adesão credenciada por uma atitude de serviço generoso e desinteressado.
A coerência de quem vive a fé, em obras concretas, brilha em tantos rostos humanos, sorridentes e felizes, em tantos voluntários de causas solidárias e fraternas, em tantos espoliados da sua dignidade que não desistem de a reivindicar, correndo riscos de morte. Infelizmente, também acontece o contrário.
A qualidade da fé é típica dos discípulos, mulheres/homens de Deus, cheios do Espírito de fortaleza, caridade e moderação – como lembra Paulo a Timóteo; preocupados em guardar o “tesouro” recebido e em mantê-lo íntegro; cheios de audácia evangelizadora em todas as circunstâncias, firmes e determinados na prossecução do ideal que aprendem do Mestre. É típica de quem assume conscientemente o baptismo e faz desabrochar toda a sua riqueza ao longo da vida.
Pe. Georgino Rocha