O Espírito sempre nos chama a renovarmos o modo de ser comunidade para podermos acolher “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo as dos pobres e de todos aqueles que sofrem”
A Igreja sinodal vai crescendo na cultura da solicitude, na prática do discernimento, na valorização da dimensão integral do ser humano: conhecimento, experiência, afetos, vontade; em ordem a avaliar cada decisão e a promover o bem pessoal integrado no bem comum. Pretende que os cristãos acertem o passo pelo ritmo do Espírito que constantemente nos impele para a verdade e para o bem, fomentem a fraternidade sinodal que desde já mobiliza as forças de cada um e de todos; fraternidade sinodal universal, ministério saudável sinodal. Sempre a irradiar
A Igreja, na sua constituição de povo de Deus, sabe situar-se na linha de Jesus Cristo-apóstolos-ministérios, uns ordenados, outros instituídos, nomeados e uma série de serviços reconhecidos. E quer acertar o passo.
Na sinodalidade, sou a favor dos três P’s: paciência, perseverança e presença, garante Luís Marín, subsecretário do Sínodo. Estamos caminhando para uma Igreja muito mais integrada e interrelacionada, uma Igreja de escuta e participação, de comunhão e dinamismo. É preciso tomar decisões que podem ser arriscadas, dar passos, ouvir. É falso o contraste entre dons hierárquicos e carismáticos. Assim como a solução assembleísta, a anulação dos carismas por meio de votos e maiorias, do ponto de vista político ou sociológico. Caminhamos juntos, confiando no Espírito. Com profunda gratidão e, sinceramente, com enorme entusiasmo.
A secularização levada a sério
Publicado num contexto em que muitas vozes católicas faziam ressoar uma espécie de “toque a reunir” para salvar a Igreja dos ataques dos seus inimigos, sempre prontos a usarem factos poucos esclarecidos para contra ela lançarem anátemas definitivos, o contributo sinodal da CEP ganha ainda maior relevância. Nele, supera-se uma visão da Igreja enquanto sociedade perfeita, gerida por príncipes escolhidos por Deus que nenhuma prestação de contas devem aos crentes, aos cidadãos ou à sociedade, para se propor uma Igreja como uma instituição diferente de qualquer outra, mas, como todas as outras, sujeita não apenas ao princípio da prestação de contas, mas comprometida a responder a todas as questões que cidadãos, sociedade e Estado lhe coloquem.
E agora?
“Nunca antes uma reflexão tão participada e sobre tantos aspetos relevantes da vida da Igreja e da sua relação com o mundo havia sido produzida e publicada em Portugal.”
Vivemos um tempo de expectativa ativa, de participação e construção, de contribuição para que os resultados finais do Sínodo de 2023 sejam marcados pelo arrojo e pela novidade que são a marca do Espírito. Espírito que sempre, e agora de forma mais urgente, nos chama a renovarmos o modo de ser comunidade para podermos acolher “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo as dos pobres e de todos aqueles que sofrem”, como sendo nossas.
Georgino Rocha