Todos nascemos para ser felizes e vamos construindo a felicidade, sobretudo com pequenas coisas e em momentos fugazes
“Deixa-te convencer” é exortação velada e insinuante, que encerra a parábola do rico Epulão e do pobre Lázaro. “Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, também não se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dos mortos”. Esta resposta está posta na boca de Abraão como ponto final a um diálogo persuasivo sobre o valor das coisas, vistas da “outra margem do rio”, sobre a importância de saber aproveitar as oportunidades que o tempo nos proporciona, sobre a articulação consequente que existe entre a fase presente da vida e o futuro definitivo - Lc 16, 19-31.
Deixa-te convencer, pois a vida é uma só, no tempo e na eternidade, embora com ritmos diferentes, tem uma dignidade própria que se manifesta, progressivamente, nas opções que fazemos e nas atitudes que assumimos, nas relações que criamos e alimentamos e nas associações que organizamos, na sociedade que constituímos.
O dinheiro abundante dá bem-estar, dá segurança e tem um poder irresistível para responder ao desejo de satisfação imediata, afirma o autor de «La Religión de Jesús»… Na crise actual, a distância entre o que ganham os que mais ganham e a escassez dos que menos têm fez-se maior que antes da crise. Como se explica semelhante barbárie? Temos que pensar bem esta situação ante o Senhor e ante os mil milhões de moribundos famintos que temos neste momento histórico. José M. Castillo, La Religión de Jesús, 2018-2019. Pag 366.
Deixa-te convencer, pois os bens são pertença de todos e a todos se destinam, de forma equitativa e solidária, estando nas nossas mãos para serem bem geridos, segundo o propósito do Criador que se revela, de modo original, em Jesus de Nazaré, o Filho único de Deus, e as leis justas estabelecidas pela autoridade humana.
Deixa-te convencer, pois o futuro definitivo, a vida eterna, estão germinalmente contidos no presente e, como a árvore na semente, têm a força de atracção mobilizadora das nossas energias e talentos, garantem-nos que tudo o que fazemos é parcela do bem de todos.
Temo que também estas palavras, adianta o Papa Francisco, sejam objecto apenas de alguns comentários, sem verdadeira incidência prática. Apesar disso, tenho confiança na abertura e nas boas disposições dos cristãos e peço-vos que procureis, comunitariamente, novos caminhos para acolher esta renovada proposta. «A Alegria do Evangelho» 201.
A vida é só uma. Deixa-te convencer, pois a aspiração à felicidade é fundamental no ser humano; é ela que comanda a vida, nas horas de infortúnio e nos períodos de sucesso. Todos nascemos para ser felizes e vamos construindo a felicidade, sobretudo com pequenas coisas e em momentos fugazes.
Celebra-se neste domingo a Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado: Está escrito que o Senhor virá, escrito está que o Senhor pedirá contas, que fizemos com o amor, que fizemos com a pobreza, por que vamos pela vida, matando tanta inocência. J. A. Olivar Homilética, 2022/5. Alerta sempre oportuno.
Deixa-te convencer. Este é o tempo em que Deus coloca à nossa disposição todos os seus dons, a sua Palavra em tantas vozes humanas; o seu Filho Jesus em tantos rostos (des)figurados que urge reconfigurar; o seu Espírito que, livre e discretamente, vai agindo em nós para agilizar a nossa resposta coerente; a sua Igreja que, apesar das limitações, nos abre as portas e acolhe como família de irmãos e nos proporciona o que tem de melhor: a mesa do Senhor, a comunhão de todos uns com os outros; as pessoas que fazem parte da nossa comum humanidade. Deixa-te convencer: o futuro feliz está ao nosso alcance, por graça de Deus e esforço de cada um de nós.
Pe. Georgino Rocha