Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo XIX do Tempo Comum
Jesus está preocupado em preparar bem os discípulos para o desempenho da missão que lhes quer confiar: O anúncio do Reino de Deus, isto é, que se promovam, na terra, relações de partilha e de fraternidade, espelho da dignidade comum de todas as pessoas e sementes do futuro definitivo da humanidade, na casa do Pai. Jesus acaba de chamar a atenção para a necessidade de buscar o que é fundamental no quotidiano, de acolher a vida como dom de Deus e tarefa nossa, de, sem medo, dar testemunho da verdade, de ser autêntico e transparente. Agora avança um passo mais: acolher o Reino que Deus nos confia, estar vigilantes face às circunstâncias, de ser responsáveis. Saborear a confiança que tem em nós, o prazer de nos servir como o administrador regressado da viagem de núpcias. E conclui este ensinamento afirmando pela “boca” de Lucas: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. Lc 12, 32-48.
Ilustra e embeleza o seu ensinamento com a narração de uma parábola – a dos empregados que esperam o seu senhor ao voltar da festa de casamento. Pedro sente-se questionado e pergunta: “A parábola é só para nós ou para todos?” A resposta de Jesus surge noutra parábola – a do administrador fiel e prudente que sabe gerir o pessoal da sua casa.
A atitude dos empregados e do administrador exemplifica bem o comportamento que Jesus define para os discípulos de todos os tempos: acolher, com satisfação, o dom que nos é oferecido, viver em confiança filial, cultivar o espírito de vigilância, ser responsável. A iniciativa da oferta pertence a Deus e proporciona-Lhe o prazer de desvendar o Seu projecto de fazer connosco uma nova família, a Sua alegria em credenciar Jesus, Seu filho, que anuncia e realiza esta feliz notícia, o Seu propósito de nos envolver plenamente, fazendo, com a humanidade, uma “parceria” de serviço, uma aliança de amor.
Uma mulher anónima, refere Margarita Saldaña, ousa transpor todas as barreiras sociais e questiona estruturas ainda marcadas pelo patriarcado e pelo clericalismo. Marcos, no seu Evangelho 14, 3-9, faz-nos compreender que Jesus acolhe o prazer que esta mulher lhe dá com o seu perfume, e que o seu olhar reconhece neste gesto uma obra não só «boa», mas também «bela» e digna de ser recordada. A mulher com perfume, Religión Digital.
A doação de Deus preenche totalmente o coração humano e proporciona-lhe critérios de relação consigo mesmo, com as pessoas e com os bens, com o universo. Liberta-o de todos os medos, apesar da sua fragilidade e inconstância, cimenta a confiança na promessa feita, abre-o a um estilo de vida sóbrio e responsável, habilita-o para saber apreciar os bens: ter para partilhar; desfazer-se deles para não se deixar apanhar e prender pelas garras da ganância egoísta; considerá-los, sempre, como valores que apontam para o Bem supremo.
A vigilância evangélica – de que trata a parábola – merece uma atenção especial. O imprevisto espera uma oportunidade e pode apanhar os discípulos desprevenidos e sonolentos. A lucidez e a responsabilidade constituem as atitudes típicas de quem está “em serviço” e quer ser fiel. Não desperdiçará nada de bom nem deixará passar qualquer ocasião propícia ou mesmo saberá provocá-la. E, então, surgirá o reconhecimento de quem lhes confiou a responsabilidade – como tão bem narra a referida parábola. Bela lição e óptimo ensinamento!
A autenticidade do discípulo fiel está em saber conformar-se com Jesus Cristo, com o seu Evangelho e seus valores, o seu estilo de vida e escala de prioridades. Em conformar-se e adquirir a forma das pessoas de bem, apreciadoras dos sonhos e fantasias em que se desenha um futuro feliz para todos/as. Em conformar-se consigo mesmo e abrir horizontes de esperança à sua vida, com esforço e confiança em Deus. Que felicidade ser cristão autêntico e fiel! Experimenta mais uma vez.
Pe. Georgino Rocha