sexta-feira, 27 de maio de 2022

Garante o Ressuscitado: Vós sereis minhas testemunhas

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo VII da Páscoa: 
Festa da Ascensão do Senhor


"A Ascensão de Jesus é garantia de presente e de futuro para toda a humanidade."

Esta garantia é um mandato de Jesus aos seus discípulos, outrora reunidos em Betânia, nos arredores de Jerusalém, agora dispersos por todo o mundo. Tem um fundo histórico, mas é sobretudo simbólico. Está datado com a subida ao Céu, mas perdura até ao fim dos tempos. Tem um itinerário definido para a sua implementação: da cidade capital às províncias, aos confins da terra. Envolve o passado que actualiza como memória e acontece, no presente, como missão que semeia o futuro e garante a sua plena realização, de forma definitiva, na eternidade feliz. Faz parte da mensagem final de Jesus e, segundo a narrativa de Lucas, são as suas últimas palavras. Que abrangência e amplitude! Que confiança e responsabilidade! Lc 24, 46-53.
Os discípulos comportam-se de maneira contrastante, evidenciando que ainda não tinham compreendido e alcançado o projecto de Jesus nem o modo da sua realização. E Judas Tadeu faz-se porta-voz do grupo e ousa perguntar: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?” A resposta, que Jesus lhes dá, está cheia de compreensão e de afecto e reencaminha a expectativa para Deus Pai, o único a saber o sentido do que irá acontecer. Nem os quarenta dias lhes bastaram para compreender o que ouviam. 40 é número simbólico que para os judeus era suficiente para o aprendiz saber e repetir o indispensável que o seu mestre lhe ensinava. E os discípulos tinham andado na escola de Jesus cerca de três anos,
O Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, com o lema «saber ouvir com o sentido do coração» aduz o exemplo seguinte: A um médico ilustre, habituado a cuidar das feridas da alma, foi-lhe perguntada qual era a maior necessidade dos seres humanos. Respondeu: «O desejo ilimitado de ser ouvidos». E prossegue dizendo: Quero agora fixar a atenção noutro verbo, «escutar», que é decisivo na gramática da comunicação e condição para um autêntico diálogo.
Com efeito, estamos a perder a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente, tanto na teia normal das relações quotidianas como nos debates sobre os assuntos mais importantes da convivência civil. Ao mesmo tempo, a escuta está a experimentar um novo e importante desenvolvimento no campo comunicativo e informativo.
Como é reconfortante a exortação do Santo Padre, indispensável para os discípulos/nós chamados a serem testemunhas do Ressuscitado. A realização desta missão não se apoia nas suas capacidades, mas na força do Espírito Santo que, dentro em breve, lhes será enviado. Com esta garantia, a expectativa ansiosa cede lugar à alegria confiante e a tristeza inibidora à ousadia criativa e persistente.
Jesus eleva-se à vista deles e passa a estar presente de outro modo. Entra no Céu, a dimensão de Deus Pai. Senta-se à Sua direita, o “lugar” da distinção pela missão cumprida. Manifesta o reconhecimento alcançado, enviando o Espírito da verdade que liberta e da justiça que defende e anuncia a dignidade humana. Agora a sua presença reveste outras formas – a da consciência e dos sinais dos tempos, dos sacramentos, da assembleia dominical, da comunidade fraterna e solícita para com os mais necessitados, da partilha de bens, da compaixão solidária e criativa. Agora a aparente elevação de Jesus na nuvem converte-se em envio, “partide com a aurora, salvai todo o que crer, vós marcais a minha hora, começa a vossa tarefa”. Não uma Igreja acurralada, medrosa… mas em saída, sinodal, fogo ardente que se estende por todos os recantos do mundo. Homilética, 2022/3, 313. Que belo!
Descobre, aprecia e vive a festa da Ascensão quem ama e defende a vida, escuta e faz ouvir a voz silenciada dos mais débeis, aprende a sabedoria da cruz florida, testemunha a vitória do Ressuscitado e o valor, sempre actual do seu Evangelho com gestos e palavras. A Ascensão de Jesus é garantia de presente e de futuro para toda a humanidade.



Pe. Georgino Rocha

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