Terá razão a interrogação no título?
O 25 de Abril, que hoje é celebrado por muitos, enquanto outros tantos, ou mais, dele se alhearão, deve ser um momento de reflexão para todos,
para que saibamos descobrir razões e caminhos que coloquem os portugueses, todos os portugueses, na senda do progresso, sempre no respeito pela democracia, pela liberdade e pela dignidade humana.
Somos uns eternos insatisfeitos. Está-nos na massa do sangue. E até será bom, se isso for um ponto de partida para ir mais longe, no campo da valorização pessoal e colectiva, seguindo caminhos de respeito pelos outros, pela democracia, pela liberdade, pelo progresso sustentável e pelos valores que enformam a nossa cultura.
Nesse pressuposto, o 25 de Abril, que veio abrir caminhos à democracia, à descolonização e ao desenvolvimento, foi uma ocasião única para acertarmos o passo com a Europa e com o mundo, connosco próprios e com as diversas culturas, a quem tínhamos fechado as portas, ao abrigo da máxima de Salazar que defendia o “orgulhosamente sós”.
Nem tudo, porém, foi um mar de rosas. Houve progressos, notórios e indiscutíveis, mas muito há ainda por fazer, em todos os campos. Se é verdade que há mais democracia, também é verdade que aí deixamos muito a desejar, quando se sente que a voz do povo nem sempre é ouvida com a devida atenção. Há frequentemente uns tantos que, julgando-se iluminados, querem pensar por todos nós e decidir a seu bel-prazer, tomando decisões que estão a leste dos reais interesses do povo. Aproveitam-se das circunstâncias que os puseram no poder e daí partem para tentarem criar uma sociedade à sua maneira. Foi sempre assim desde o 25 de Abril de 1974.
A descolonização deixou traumas que podiam ser evitados. Diz-se que foi a descolonização possível. Não sei se foi. Só sei que ainda hoje há muitos portugueses que sofrem na pele e na alma o facto de terem perdido tudo quanto construíram nas ex-colónias, sem que o Estado português tenha feito seja o que for, de relevante, para minimizar o sofrimento dos que fugiram de terras que julgavam suas também.
Quanto ao desenvolvimento, não posso negar o óbvio. Portugal é outro. Já não somos o povo do pé-descalço, do analfabetismo, do atraso a todos os níveis. Um povo fechado ao mundo, temeroso de lutar pela sua dignidade e pelo seu progresso. O Portugal rico era de uns tantos e a maioria comia o pão-que-o-diabo-amassou.
Acontece que, mais de 30 anos [48 anos] de democracia e de desenvolvimento deixaram que 20 por cento da população portuguesa continuasse no limiar da pobreza, a passar fome e a não ter capacidade para sair desse fosso.
O 25 de Abril, que hoje é celebrado por muitos, enquanto outros tantos, ou mais, dele se alhearão, deve ser um momento de reflexão para todos, para que saibamos descobrir razões e caminhos que coloquem os portugueses, todos os portugueses, na senda do progresso, sempre no respeito pela democracia, pela liberdade e pela dignidade humana.
Fernando Martins