Alguns aspetos da exposição
rumo de mar
Mais uma vez os nossos homens partem, mar fora, na aventura do pão de cada dia. A vida deles é sempre mais uma vez. Marinhar teimoso para sobreviver, desfraldar de velas sempre a partir, acenar de lenços, saudades que vão, saudades que ficam. E a alma da nossa terra, desta terra marinheira de céu azul e capelinhas brancas, de imagem dolorida do Senhor Jesus dos Navegantes, reparte-se por esses mares de Cristo na inquietação das horas difíceis e na esperança do regresso daqueles que partiram. E depois do regresso os nossos homens partem outra vez. A vida deles é sempre mais uma vez...
Amigos! Um homem do mar é um homem de fé. Rude, valente diante a tempestade, tem sempre fé. Aprendeu-a no regaço terno das mães, tempera-a nas batalhas árduas contra as fúrias das tempestades, fortalece-a no convívio sagrado da família, revê-a nos olhos dos seus filhos. E no mar, quando o mar é mar ou toalha mansa de prata, ele sente-se mais perto de Deus.
Amigos! Que o Senhor Jesus dos Navegantes vos dê a paz das consciências tranquilas no fim de cada dia de trabalho, vos ajude na pesca e vos traga salvamento.
Eles que partem, 1961, D. Júlio Tavares Rebimbas +, prior de Ílhavo
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Centro de Religiosidade Marítima (CRM) nasceu em Ílhavo na requalificação do espaço do antigo quartel dos Bombeiros Voluntários, nas traseiras da Igreja Matriz. Trata-se de uma obra da responsabilidade da Câmara Municipal, à qual se associou a paróquia de São Salvador, que importou em cerca de 1,5 milhões de euros, acolhendo, para além daquele centro, a Confraria Gastronómica do Bacalhau, uma loja social e um auditório. O espaço museológico pode ser visitado, gratuitamente, até ao fim do ano
Limitações pessoais impediram-nos de visitar o novo museu, há mais tempo. Só agora foi possível, embora de passagem, mas voltaremos. Garantidamente. Foram muitíssimos os elogios, mas não podemos deixar de salientar que as nossas expetativas foram amplamente suplantadas, tal a beleza estética, a sensibilidade artística e a riqueza do espólio que pudemos apreciar. As obras do CRM e da requalificação do Jardim Henriqueta Maia foram concebidas pelo arquiteto ilhavense José Paradela. oferecendo à sede do concelho um espaço amplo e arejado, complementado pela arte da museologia sacra. Todo este conjunto merece ser apreciado, divulgado e usufruído.
No CRM, nem sabemos que mais destacar, tal a diversidade e riqueza das peças de vários estilos e épocas, carregadas de vivências dos marítimos ilhavenses e seus familiares, animados pela fé e suas devoções, vivenciadas estas, imensas vezes, nos mares revoltos e nas fainas piscatórias e outras a elas ligadas.
Uma exposição que merece ser visitada.
Fernando Martins