para o Domingo XVIII do Tempo Comum
O Papa Francisco, na sua alocução no dia dos Avós, afirma: O verdadeiro milagre, disse Jesus, não é a multiplicação que produz orgulho e poder, mas a divisão, o partilhar, que aumenta o amor e permite que Deus faça prodígios
A “onda” de entusiasmo crescente impele a multidão a ir à procura de Jesus que lhe havia saciado a fome com a multiplicação dos pães. Sem medo nem previsões. Impele-a a tomar as barcas, guardadas na margem do lago e a rumar a Cafarnaum, aldeia a curta distância. Impele-a a abrir o diálogo “curioso” de saber há quanto tempo Jesus estava ali, pois havia-os deixado no momento mais eufórico da merenda/refeição: os beneficiados pretendiam aclamá-lo rei. Impele-a a manter-se firme e atenta, fazendo perguntas que Jesus, sabiamente, aproveita para abrir horizontes às suas mentes preocupadas, ao falar-lhes do pão da vida, do pão descido do céu, do pão que Deus dá para a vida do mundo, do pão que sacia todas as fomes, do pão que é Ele mesmo. E faz surgir uma pergunta que nos interpela: A nós que nos impele a procurar e seguir Jesus? Jo 5,24-35.
O Papa Francisco, na sua alocução no dia dos Avós, afirma: O verdadeiro milagre, disse Jesus, não é a multiplicação que produz orgulho e poder, mas a divisão, o partilhar, que aumenta o amor e permite que Deus faça prodígios". “Tão pouco hoje a multiplicação dos bens resolve os problemas sem uma justa distribuição. Vem-me à memória a tragédia da fome que afeta especialmente as crianças. Calcula-se que cerca de sete mil crianças com menos de cinco anos morrem diariamente no mundo por desnutrição". E conclui: “A lógica do dom é muito diferente da nossa. Nós tratamos de acumular e aumentar o que temos; Jesus, ao contrário, pede dar, diminuir".
Retomando a narrativa do Evangelho, verifica-se que o estado de ânimo da multidão é compreensível: garantir o alimento diário, (que juntamente com a saúde) constitui a necessidade básica, reconhecer quem lhe pode valer e segui-lo, acalmar o tormento das dúvidas inquietantes, acolher a novidade que surge e convida a evoluir na sua compreensão, a ver e a relacionar-se, de modo diferente, com Jesus, a quem fazem um pedido original: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”.
A relação alcançada é “paradigmática” do percurso da fé que João sumariamente apresenta: sentir-se necessitado e aceitar ir na companhia de outros, removendo preconceitos e obstáculos, fazer perguntas pertinentes e acolher respostas interpelantes, descobrir e aceitar Jesus como Mestre que não apenas faz sinais de Deus (milagres) mas ensina com a sua autoridade, atribuir-lhe o título de Senhor, reconhecendo-o como o Seu enviado, ser surpreendida pela sua declaração solene: “Eu sou o pão da vida”.
“Senhor, dá-nos sempre desse pão”: o pão da dignidade e da justiça, da liberdade responsável e da confiança recíproca, da fé inteligente e da esperança activa, da sabedoria que faz da “fraqueza” força e da limitação ponto de partida para ampliar horizontes, da escuta compreensiva e do diálogo regenerador, do perdão sem conta nem medida. Pão de uma economia sustentada, ao serviço de todos, de uma política humanizada pela busca incessante do bem comum, de uma cultura aberta aos valores da vida, do bom e do belo, da bondade e da beleza. Pão que nos faz eucaristia e gera um mundo novo.
O pão da vida eterna esta presente na luta pela justiça, na construção de um mundo novo. Qual a atitude que motiva a minha busca de Deus, hoje? O encontro dominical é um momento privilegiado em que Cristo continua a alimentar o seu povo com a sua palavra e com o seu pão.
Pe. Georgino Rocha