Reflexão de Georgino Rocha
para a Festa do Corpo de Deus
“Ámen” – responde o cristão a quem lhe apresenta o “corpo de Cristo” no rito da comunhão, expressando a sua fé orante no pão eucarístico que vai receber. É o corpo de Cristo real e não virtual, ressuscitado e não físico ou meramente aparente e convencional, sacramental e não carnal. É corpo pessoal sacrificado que, tendo nascido da Virgem Mãe, se faz “corpo entregue e sangue derramado” na ceia da instituição da eucaristia, corpo eclesial na assembleia convocada para a celebração, corpo cósmico nas realidades temporais que se vão conformando aos valores do projecto de Deus que quer ser tudo em todos. Tudo concentrado na pequena hóstia!
A Igreja nasce e vive da eucaristia e, por mandato de Jesus, realiza-a como fonte e o cume de toda a sua missão. “Fazei isto em minha memória” – ordena Ele aquando da instituição. E a Igreja assim faz, conservando o memorial eucarístico nas diversas formas de celebração e acolhendo modos vários de manifestar a “ressonância” suscitada na piedade popular.
A festa do Corpo de Deus foi instituída em meados do século XIII, época em que se comungava muito pouco e se levantavam dúvidas sobre a «presença real» de Jesus na hóstia consagrada depois da celebração da Eucaristia. “A Igreja respondeu, não com longos discursos, mas com um ato: sim, Jesus está verdadeiramente presente mesmo depois do fim da missa. E para provar esta fé, criou-se o hábito de organizar procissões com a hóstia consagrada pelas ruas, fora das igrejas”.
A festa do Corpo de Deus surge como uma das realizações mais felizes desta manifestação de fé no sagrado banquete em que se recebe Cristo e se comemora a sua paixão, a nossa alma se enche de graça e nos é dado o penhor da futura glória.
Bento XVI chama a atenção para o risco que se corre ao concentrar “toda a relação com Jesus Eucaristia unicamente no momento da Santa Missa, esvaziando da sua presença o resto do tempo e do espaço existenciais. E assim compreende-se menos o sentido da presença constante de Jesus no meio de nós e connosco, uma presença concreta, próxima, no meio das nossas casas, como «Coração vibrante» da cidade, do povoado, do território com as suas várias expressões e atividades. O Sacramento da Caridade de Cristo deve permear toda a vida quotidiana”. Também a minha.
Além da celebração e da procissão, o culto eucarístico contempla outras formas de acolhimento e resposta por parte da Igreja no seu conjunto ou em alguns dos seus membros: comunhão em forma de viático aos moribundos e também fora da missa, adoração perpétua e temporária, visita ao Santíssimo Sacramento, lausperene, hora santa e bênção conclusiva da adoração, congressos.
“Ontem, em Assis, recorda o Papa Francisco aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, foi beatificado Carlo Acutis, um jovem de quinze anos, enamorado pela Eucaristia… Seu testemunho indica aos jovens de hoje que a verdadeira felicidade se encontra colocando Deus em primeiro lugar e servindo-o nos irmãos, especialmente os últimos. Carlos era chamado pelos colegas o “ciberapóstolo da Eucaristia”. Sofre de leucemia que o vem a vitimar. Costumava dizer: "Estou feliz por morrer, porque vivi minha vida sem desperdiçar um minuto com coisas que não agradam a Deus".
No fim da refeição, os discípulos e Jesus cantam os salmos e partem para o monte das Oliveiras. Também hoje a celebração da Eucaristia, após o canto final, faz-nos partir. Para ir onde? Onde há alguém que precise de ajuda, onde se “joga” a vida da humanidade. Não vamos sós. Ele, o Ressuscitado, está connosco, como na Ceia da Instituição ou na manhã de Páscoa. Ir à missa, é partir em missão.
Fixando o olhar e o coração em Cristo – Corpo de Deus -, os discípulos fiéis realizam, com mais autenticidade e eficácia, a evangelização, a comunhão e o serviço aos pobres; fazem-se “pão” por um mundo novo; caminham com os seus irmãos em humanidade, vivendo suas alegrias e tristezas, sanando feridas e abrindo horizontes de esperança.
Pe. Georgino Rocha