Trago a morte medida.
Sou lâmpada de pobre:
Nem toda a noite a vida.
Já meu sangue estremece;
Veio uma asa ao lago.
Minha mão arrefece
Nestas coisas que afago.
Que maneira de amor
Fui, no menino ido!
Agora, seja o que for
Já no homem cumprido.
Até ao último fio
Poupei o dote divino.
O homem de Deus perdi-o;
Só salvei o menino.
Esse me leva e enche
Como uma onda do mar:
Minhas fraquezas preenche,
Que a grande força é brincar.
Já vai escurecendo;
O sangue pára de arder.
Agora, o que digo acendo
Para me não perder.
Vitorino Nemésio
In VERBO - Deus como interrogação na poesia portuguesa