Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo VIII do Tempo Comum
Vem Espírito e faz de nós agentes de transformação, profetas da civilização da justiça e do amor, mensageiros da alegria jubilosa e revigorante.
O acontecimento do Pentecostes, que celebramos no domingo VIII do Tempo Pascal, manifesta como o Senhor Jesus coopera com os seus enviados: enche-os do seu Espírito e traça-lhes, mais uma vez, os horizontes da missão. De outro modo, como seria possível àquele grupo ir por todo o mundo, anunciar o Evangelho de forma acessível em todas as línguas, semear a paz em gestos de perdão, garantir um futuro melhor, abrir as portas do amor misericordioso, criar condições para que todos se reconheçam como irmãos porque filhos do mesmo Deus Pai?! Linguagem entusiasmante e expressiva de um um projecto em realização. No imediato, era humanamente, impossível. O grupo estava ainda traumatizado pelas atrocidades da paixão, temeroso pelo que podia suceder-lhe, debilitado em forças e reduzido em número. Jo 20, 19-23.
Jesus, mais uma vez, faz do “pequeno enfraquecido” um protagonista vigoroso, um arauto destemido, um mensageiro ousado. E os discípulos “escancaram” as portas do coração e da casa onde se encontram e vêm para a rua, cheios de alegria e confiança, percorrem os caminhos do mundo, organizam comunidades e garantem a sucessão, confirmando os seus responsáveis.
Se o rosto visível tem os traços dos apóstolos, o agente principal da missão é o Espírito Santo, aquele que Lucas e João nos apresentam de forma tão singular, embora simbólica, literariamente encenada. São várias as expressões que designam esta realidade sublime e provoca espanto e admiração que brotam do coração dos ouvintes ao perceberem as maravilhas de Deus, de modo acessível e inteligível.
A primeira maravilha é a união testemunhada por aqueles que recebem o Espírito. Todos em conjunto anunciam o mesmo Messias salvador, morto pelos judeus e ressuscitado por Deus Pai. Todos diferentes em capacidades e modos de proceder, mas unidos no amor fiel a Jesus Cristo e ao mandato que receberam. Todos dispersos nos quatro cantos do mundo, mas congregados na profissão da fé e respeitadores do serviço de cada um.
São João Crisóstomo numa das suas catequeses sobre o Espírito Santo afirma: “A cada um é dada a manifestação do Espírito para o bem comum… Ele vem como protector fraterno: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar a alma de quem O recebe e, depois, por meio desse, a alma dos outros”.
Cheios do Espírito, os discípulos anunciam o Evangelho da vida que faz de nós, homens e mulheres criativos, capazes de sermos alento dos abatidos, conforto dos entristecidos, alívio dos debilitados, agentes de consciencialização dos narcotizados pelas complexas redes de influência manipuladora. Capazes de O reconhecer e amar na dedicação generosa de tantos voluntários de serviço gratuito, de profissionais honestos e competentes, de pais e mães abnegados, de diáconos e padres alegres e generosos, de bispos servidores da Igreja solidária com o mundo e suas turbulências. Sem verdade e honestidade, o evangelho da vida desvirtua-se e o padrão de valores inverte-se.
“Se a Igreja vive a comunhão e de comunhão, então pode ensinar e testemunhar aos homens a vida divina, que é precisamente comunhão”, atesta Manicardi que prossegue: E exctamente na comunhão e na fraternidade se situa a alegria dos cristãos: alegria comunitária, alegria de estarem juntos, alegria que participa na alegria do próprio Cristo. E situa-se também a fecundidade da evangelização: Por isto todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes una aos outros Jo 13, 35
O Espírito faz-nos situar no tempo, que é o nosso, falar as linguagens da sua cultura, acolher as múltiplas inquietudes da sua consciência, sintonizar com as aspirações mais genuínas da sua humanidade e, em parceria saudável e construtiva com outros, procurar caminhos de realização integral, oferecendo o que somos e temos de melhor: a verdade que liberta pelo Espírito de Jesus ressuscitado, o sentido de uma vida doada no amor incondicional, o rumo de um caminho traçado na história e percorrido num tempo aberto ao futuro de Deus.
Rezemos a Quem nos guia na missão: Espírito Santo, alento consolador, vem e cura a aridez dos nossos corações e a aspereza das nossas relações interpessoais. Vem chama viva de amor ardente e dá-nos a linguagem da entrega e da comunicação, da atenção aos mais empobrecidos e sobrantes na sociedade. Espírito divino impulsiona a Igreja e suas comunidades, como outrora fizeste aos discípulos, a saírem de si mesmas, a deixarem de ser autorreferenciais, a compreenderem a humanidade e a darem-lhe o sentido que a dignifica e liberta. Vem Espírito e faz de nós agentes de transformação, profetas da civilização da justiça e do amor, mensageiros da alegria jubilosa e revigorante.
Pe. Georgino Rocha