sexta-feira, 14 de maio de 2021

A unidade dos discípulos querida por Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo VII da Páscoa

Os passos dados a todos os níveis eclesiais, sobretudo ecuménicos, realizam de forma germinal o legado que Jesus nos deixou. Em fidelidade crescente, avancemos alegres e confiantes.

Jesus está na “ponta” final do seu ministério temporal. Os discursos, as parábolas, as sentenças e outras formas de comunicação cedem lugar à oração dirigida ao Pai em que abre o seu coração e revela as preocupações maiores que o animam. Não reza angustiado pela hora que se avizinha, nem por antever como os discípulos se iriam comportar. Não reza a lamentar-se, a pedir socorro ou coragem para enfrentar as horas que vão seguir-se. Jo 17, 11b-19.
A sua oração está centrada na unidade dos discípulos, na alegria da missão, na verdade que traduz a fidelidade possível à sua Palavra, quer dizer a Ele mesmo. Que Lhe sejam fiéis para que o mundo creia que é o enviado do Pai.
A equipa redatora do «Vers dimanche» introduz o seu comentário com este belo resumo: “Esta passagem do evangelho nos introduz no conteúdo da oração de Jesus. É um momento solene e grave em que todas as palavras contam. Ele dirige-se com confiança a seu Pai e todo o mistério da sua vida transparece: Pai, amor, unidade, verdade, palavra, santificar, enviar, mundo, maus/perseguidores. Entremos com humildade nas palavras desta oração e na dinâmica de unidade à qual nos convida”. Que belo convite que queremos aceitar com determinação e confiança.
Na Igreja o ministério mais árduo e mais difícil é o de presidir à unidade, o de ser servo e instrumento da comunhão, que é o primeiro elemento distintivo da comunidade cristã. Estar em comunhão, participar na “koinonia” entre irmãos e irmãs é também a condição para se ser discípulo de Jesus e seu sinal na companhia dos seres humanos
Foi por isto que Jesus confiou a alguns discípulos a missão de se tornarem pastores, guias, vigilantes, com a tarefa de fazer e renovar a unidade, de reavivar e confirmar a comunhão, uma comunhão plural, não monolítica, que acolhe a diversidade, mas vive-a na única fé, na única esperança e na caridade. Enzo Bianchi SNPC.
Este é o primeiro desejo de Jesus na sua «Oração Sacerdotal». Coordenar a diversidade na comunhão é dom do Pai, a pedido de Jesus, por meio do Espírito Santo. Supõe uma vontade positiva de ser fiel e exige uma observação atenta à abundância de dons e carismas do povo de Deus; supõe e exige a criação de espaços de diálogo e discernimento em ordem a apurar o que o Espírito diz à Igreja nas suas comunidades locais ou paróquias e a dar-lhe forma de projecto de acção organizada em que todos/as se envolvem. É o sentido da caminhada sinodal, de igreja família de famílias em comunhão.
A Semana da família: “A Vida que nos toca – A Vida que sempre cuidamos” tem hoje a celebração dominical culminante. Cuidar da vida abrange a “Igreja (que) é família de famílias, constantemente enriquecida pela vida de todas as igrejas domésticas”. Alegria do Amor 87. A comunhão no seio familiar, respeitando e integrando as legítimas diversidades, é missão nobre mas árdua do casal e dos filhos, à medida que se desenvolvem.
D. José Tolentino Mendonça ao intervir no âmbito desta semana afirma que a família aparece como “aliada de Deus” para cuidar da vida que nasce, de uma nova criatura em crescimento. E alerta para alguns obstáculos existentes na sociedade. “Não podemos evitar pensar no contexto em que a natalidade e os apoios à natalidade, e até a mentalidade cultural em torno à natalidade, são muitas vezes um obstáculo para a vida das famílias”.
Terminamos a nossa reflexão com o Papa Francisco que afirma: “o caminho da unidade requer muita oração, humildade, reflexão e conversão continua, de modo que o «escândalo» deixe de existir entre quem crê em Cristo”.
Os passos dados a todos os níveis eclesiais, sobretudo ecuménicos, realizam de forma germinal o legado que Jesus nos deixou. Em fidelidade crescente, avancemos alegres e confiantes.

Pe. Georgino Rocha 

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