Não é preciso grande esforço para refletirmos sobre os confinamentos aconselhados pelos meios de comunicação social, obrigados que fomos a ler nos cantos das televisões o aviso “Fique em Casa”. A realidade concreta da vida, os comunicados do Governo, os discursos e conversas do Presidente da República e das pessoas mais informadas mostram os dramas e medos que o mundo está a enfrentar.
O perigo de contágio do Covid-19, estatisticamente mais fatal para pessoas idosas ou fisicamente mais débeis, não deixa dúvidas a ninguém de bom senso sobre a segurança que existe em nossas casas e a incerteza que podemos topar nos estabelecimentos e ajuntamentos ocasionais ou organizados, por aqui e por ali, à revelia das decisões impostas pelos Governo, com o apoio da Assembleia da República e do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Os sensatos, nos quais nos incluímos, cumpriram as normas do confinamento. E assim, sentem-se bem, embora reconheçam que muitas outras pessoas tiveram de enfrentar incómodos e transtornos de variadíssima ordem. Mas então ninguém conseguiu adaptar-se à vida diferente a que fomos forçados? Eu penso que é difícil tirar conclusões certas, por enquanto. Contudo, é sabido que o isolamento só por si é problemático, sobretudo se os isolados não tiverem estruturas mentais e outras capazes de resistir à solidão. Sem conversar e conviver, sem sentir o bulício de quem está ou chega e sem ocupações que distraiam as pessoas podem cair no desânimo e na perda de gosto pela vida.
Estando os médicos e demais profissionais de saúde superocupados com os doentes do coronavírus e outros que exigem cuidados urgentes, temos de ser nós a construir ambientes que ajudem os mais idosos, mas não só, a ultrapassar os momentos críticos gerados pelo isolamento.
Apesar de tudo, há os que fogem ao stresse gerado pelo confinamento reinventando ocupações saudáveis, estabelecendo contactos através das redes sociais, escrevendo ou lendo, selecionando programas radiofónicos ou televisivos, apreciando filmes, ajudando nas tarefas domésticas, telefonando a amigos ou conhecidos, programando o dia a dia. Não haverá quem tenha o sentido artístico nunca levado à prática? Ficar acordado com o olhar parado e a pensar em nada será a pior forma de enfrentar esta fase complicada da vida de todos.
Há dramas de famílias em dificuldade extrema e sem meios para ultrapassar a crise. Alertar as autoridades e as instituições sociais, bem como acudir conforme as posses de cada um, serão formas úteis para minorar o sofrimento de muitos. Fazer o bem faz-nos bem.
Fernando Martins