terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Arrais Gabriel Ançã

A nossa gente

Gabriel Ançã na Costa Nova

Gabriel Ançã nasceu em Ílhavo, a 8 de janeiro de 1845, filho de José Ançã, pescador, e Maria Francisca.
Frequentou a escola primária do Prof. Ratola, na Lagoa, onde foi colega do poeta Alexandre Conceição.
Filho de pescador, acompanhava o pai nas lides da pesca, desde os 7 anos, não só na Costa Nova, mas também na zona de Lisboa, entre novembro e maio, na pesca do sável.
Gabriel Ançã tinha uma grande desenvoltura no mar, por isso, não foi estranho para os demais quando integrou a tripulação do salva-vidas do famoso Patrão Joaquim Lopes. Ao serviço deste, destacou-se no salvamento de uma embarcação inglesa que tinha encalhado no Bugio, junto à foz do Tejo, onde, ao dar-se pela falta de uma criança no regresso do salvamento, o jovem Ançã partiu sozinho no seu encalço, nadando até a encontrar.
Aos 19 anos ascende ao lugar de arrais. Aos 21 anos, a 28 de setembro de 1867, estabeleceu-se em Ílhavo, onde contraiu matrimónio com Maria Rosa de Jesus, a Paroleira, e do qual resulta uma prole de sete filhos.
Um dos primeiros salvamentos a trazer grande notoriedade a Gabriel Ançã terá sido o seu contributo para o socorro dos náufragos do vapor francês Nathalie. Esta embarcação encalhou ao largo da praia da Torreira, no dia 23 de outubro de 1880. As fontes apresentam versões contraditórias sobre o papel do arrais neste salvamento, tendo-se até especulado se este ato se não se deveu unicamente às companhas de Manuel Firmino e à população murtoseira. O que se sabe é que Gabriel Ançã não constava da lista de indivíduos agraciados por este acontecimento pelo governo, embora o mesmo tivesse sido condecorado pelo governo francês. Resta, porém, a dúvida se foi por este ou outro salvamento.
Seis anos mais tarde, a 11 de outubro de 1898, o arrais conseguiu salvar toda a sua tripulação (34 ao todo) ao largo da Costa Nova. Durante uma tempestade, conduziu a embarcação até S. Jacinto à força de remos, não deixando que o ímpeto de nenhum pescador esmorecesse, tendo ele próprio assumido o lugar de um dos remadores, quando a força lhe falhou.
Estes feitos foram reconhecidos quando, em 1886, foi condecorado por D. Luís com a medalha de ouro por distinção, filantropia e generosidade, e, em 1898, recebeu a mesma distinção em prata. Ao todo, Gabriel Ançã registou mais de 90 salvamentos, mas muitas fontes atribuem-lhe 123.
Além desta faceta de homem destemido e salvador de vidas humanas no mar, sabemos que Gabriel Ançã se preocupava muito com a situação precária de muitos pescadores mais velhos, pois estavam impedidos de ir ao mar. Assim, numa tentativa de mitigar a pobreza extrema destas pessoas, dava-lhes muitas vezes trabalho no conserto de redes, algo que os armadores das companhas não apreciavam, pois acabavam por ter de empregar mais pessoal do que era necessário.
Homem muito respeitado, na última fase da sua vida passou por grandes dificuldades. Assim, diversos notáveis ilhavenses tiveram de se mobilizar no sentido de lhe ser atribuída uma subvenção vitalícia, em 1907.
Faleceu, a 28 de fevereiro de 1930, com 85 anos, devido a complicações decorrentes de uma pneumonia.

Informação Histórica do Topónimo


1. Trabalho efetuado pelo Centro de Documentação de Ílhavo ((CDI) -– Câmara Municipal de Ílhavo, no âmbito do projeto "Se esta rua fosse minha";
2. Em Ílhavo encontramos a Rua Gabriel Ançã (Ata CMI n.º11/1991). Porém, a Costa Nova do Prado não esqueceu o herói, e ali encontramos a Calçada Arrais Ançã e a Rua do Arrais Ançã;
3. A Rua Gabriel Ançã, em Ílhavo, era, no início, um beco, onde residiram duas pessoas muito consideradas entre a população ilhavense: o enfermeiro Belo e sua esposa, a enfermeira Isabel Belo.
Este casal, em 1947, após terminar a sua formação em Coimbra, foi convidado pelo Capitão Abreu, Provedor da Santa Casa da Misericórdia, para ocupar o serviço interno de atendimento de saúde na instituição. Conta-nos a sua filha, Isabel Belo, que os enfermeiros, antes de ocuparem a casa na Rua Gabriel Ançã, moravam na instituição devido ao serviço permanente (24 horas por dia).
A Enfermeira Isabelinha, como era carinhosamente conhecida, além de cuidados gerais aos utentes, era também parteira, prestando cuidados de obstetrícia à população de Ílhavo, Gafanhas e Vagos.

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