Testemunho de Georgino Rocha
Padre João Gonçalves nasce na Gafanha do Carmo, Ílhavo, a 28 de Março de 1944 e vem a falecer na Casa Sacerdotal, em Aveiro, a 8 de Dezembro de 2020.´Feito os estudos eclesiásticos, o curso de teologia é no Seminário de Cristo Rei, Lisboa, recebe a ordenação presbiteral a 21 de Dezembro de 1969, das mãos de D. Manuel de Almeida Trindade, na sua terra natal. Inicia a vida paroquial na Sé de Aveiro em equipa sacerdotal, sendo prior o P. Arménio Costa.
Desde logo, se destaca pela atenção a todos, mas sobretudo aos mais frágeis da sociedade, e a delicadeza no relacionamento com as pessoas. Dedica muito tempo ao acompanhamento espiritual de quem o procura. Vai alargando o seu campo de acção à Cadeia, ao Hospital, aos Serviços Pastorais da Diocese, às Florinhas do Vouga. É escolhido para Vigário Episcopal, em sucessivas áreas de intervenção, designadamente de acompanhamento às paróquias com Centros Sociais. Conselheiro dos Bispos da Diocese, a nível pessoal e colegial nos conselhos instituídos, consultor e ecónomo. Em tudo, mostrava uma alegria contagiante, mesmo nos períodos de doença ou em grandes contrariedades, cultivava um modo peculiar de pensar e de agir, tendo como ponto de partida o bem maior, a situação dos pobres e sem defesas, sobretudo os presos, os sem-abrigo.
Acorria com prontidão a alguma necessidade que lhe batesse à porta, participava em debates socio-culturais, escrevia artigos-testemunho das situações que vivia ou encontrava. Leves, claros e interpelantes.
Como cidadão e pároco, queria contribuir para Aveiro ser uma cidade mais alegre e participativa. Apoiado em equipas de serviço, o P. João sabia rodear-se de quem se dispusesse e colaborasse efectivamente, levou a paróquia a impulsionar a renovação comunitária com a ajuda do Movimento por um Mundo Melhor, e promoveu iniciativas de rua, sendo a mais notável o “Carnaval de Aveiro” a que acorriam grupos de outras terras, e a festa dos Santos Populares no Jardim da cidade.
A sua acção nos estabelecimentos prisionais, o P. João Gonçalves era o responsável pela coordenação nacional do serviço que os capelães fazem nas diversas cadeias, deu azo ao Documentário “O Padre das Prisões” com realização de Daniela Leitão e guião de Inês Leitão e tem como objetivo sensibilizar para as questões humanitárias e da justiça social. “Apresenta, informa um órgão da imprensa local, a obra de uma personalidade destacada da vida pública aveirense”. Está em livro editado pela Caritas Nacional. A sociedade civil reconhece a importância da acção do P. João Goncalves é distingue-o com diversas medalhas e outras condecorações e gestos simbólicos.
Apaixonado pela pastoral dos doentes, ele mesmo teve várias e duradouras alterações de saúde, sendo de destacar a última há anos que o veio a vitimar. Era edificante ouvi-lo dizer com convicção: Eu tenho um cancro; não é ele que me tem a mim. E assim foi. Fez quase sempre a vida normal e pastoral, excepto nos dias de tratamento.
Chegou ao fim a resistência. Acabou o sofrimento intenso. Está, assim o creio, nos braços do Pai. A vida do P. João Gonçalves decorre toda à luz do Evangelho de Mateus, cap. 25. Como terá exultado de alegria ao ouvir: “Vem, bendito de meu Pai, recebe a herança do Reino”. E à luz de Deus como avaliará a urgência de uma acção transformadora na Igreja e na sociedade, a começar no coração de cada pessoa e de cada família.
Pe. Georgino Rocha