Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo III do Advento do Natal
A liturgia da Palavra está repassada de referência à alegria e a quanto a envolve e lhe abre horizontes. Os rostos que a tornam visível são III Isaías, Paulo de Tarso e João Baptista. Vamos deter-nos em alguns traços destes rostos que muito nos consolam e interpelam.
“Exulto de alegria no Senhor, proclama Isaías no desterro da Babilónia. “Vivei sempre alegres”, escreve Paulo aos cristãos de Tessalónica. “No meio de vós está Alguém que não conheceis”, afirma João Baptista aos sacerdotes e levitas enviados de Jerusalém.
Que exortação corajosa, a de Isaías, vinda de quem está em situações difíceis e sofridas! Que mudança de perspectivas comporta, relativizando o peso do presente face à esperança do futuro! Que suporte anímico e espiritual manifesta, ao dar as razões em que se apoia e fundamenta! Aconselhar a viver na alegria os abatidos de coração, os esmorecidos de coragem, os desterrados de si mesmos, constitui uma verdadeira provocação e lança um forte desafio.
Assim era a situação no tempo do 3º. Isaías, profeta do exílio em Babilónia, quando Ciro, rei da Pérsia, conquista a cidade e dá liberdade aos cativos de regressarem às suas terras. Um grupo de judeus aproveita a oportunidade e vem instalar-se em Jerusalém. Mas depara-se com uma surpresa desagradável e frustrante: é acolhido friamente e com alguma hostilidade pelos residentes. Apesar disso, ganha coragem e persiste, lançando as “bases” do culto habitual ao Senhor, seu Deus. Todavia, os agravos acentuam-se, sendo espoliados dos bens que conseguem obter, e ficam sem casa para habitar nem campos para trabalhar. Renasce intensa a desilusão frustrante, a tristeza de morte. E o profeta ergue a voz para proclamar: Exulto de alegria no Senhor. Ele há-de fazer brotar a justiça.
Pode parecer incrível, mas não. Trata-se de descobrir a novidade da alegria messiânica, de cultivar sentimentos de exultação festiva, de reconhecer os “rebentos” da justiça a emergir em todas as nações. Trata-se de saber ver, com o coração purificado, o que está a acontecer. Também, hoje, há sinais de uma sociedade nova; não o enxergais?!
Paulo recomenda aos cristãos de Tessalónica que vivam sempre alegres, que se conservem íntegros e dêem graças em todas as circunstâncias. E como que a justificar-se, acrescenta: Pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito. O Apóstolo, vindo de Filipos, refugia-se naquela cidade comercial e de encontro de grandes pensadores e apregoadores das mais diversas doutrinas. Surge um grupo de discípulos, que acompanha por pouco tempo, pois forças persecutórias começam a movimentar-se. E tem de fugir para Atenas, donde envia os seus colaboradores Timóteo e Silas àquela comunidade, para saber notícias. No regresso, estes seus colaboradores encontram-se com ele em Corinto e narram o que viram e ouviram: Os cristãos de Tessalónica continuavam fervorosos e activos. Escreve-lhes, então, dando conta da sua alegria e exortando-os a progredirem no amor mútuo e na fé confiante. Também no sofrimento é possível rejubilar, felizmente!
“O mistério de João, escreve Orígenes, realiza-se no mundo até hoje. Em quem quer que se prepare para aceder à fé em Jesus Cristo, é necessário que primeiro entrem no seu coração o espírito e a força de João para preparar para o Senhor um homem predisposto e para aplanar os caminhos e endireitar as asperezas do seu coração”.
João Baptista alegra-se, igualmente, ao dar testemunho de Jesus: “Esta é a minha alegria e é muito grande. É preciso que Ele cresça e eu diminua”, Jo 3, 29 e 30. Compara esta alegria à do amigo do noivo que recebe a noiva. Manifesta esta alegria em dar testemunho da luz da verdade, da presença de Alguém ainda não reconhecido, da voz que clama e desperta consciências, do regozijo exuberante que brota da sintonia com o projecto de Deus. Quantas testemunhas enfrentam as maiores adversidades, o próprio martírio da morte imposta por causa da fé em Jesus Cristo, com grande coragem e enorme serenidade. As notícias deste heroísmo são surpresas diárias. Mas igualmente as que na simplicidade da vida quotidiana confessam e testemunham que Ele está no meio de nós.
Pe. Georgino Rocha