para o Domingo VI do Tempo Comum
Jesus sonha um homem novo, feliz, e faz a sua proposta de vida no ensinamento das bem-aventuranças. O local escolhido é a montanha que evoca o sítio em que Deus selou a aliança com o seu povo e lhe deu um código de comportamentos – os mandamentos. No Sinai, Moisés recebe a Lei. Neste monte, Jesus confirma o valor das promessas feitas por Deus e abre-lhe horizontes mais rasgados. Mt 5, 17-37.
O Reino – expressão usada para designar esta realidade – está já em realização e o coração prepara-se para o acolher e manifestar. Jesus vem não anular, mas potenciar; não denegrir, mas fazer brilhar; não aprovar os sinais exteriores, mas valorizar as atitudes interiores; não adiar a satisfação das aspirações, mas garantir que, desde já, a felicidade é possível se os ouvintes/discípulos viverem a sua proposta em todas as dimensões.
“Jesus não se opõe à Escritura, mas a interpretações e explicações dadas pelos escribas: «O povo não lia um texto, mas escutava a palavra proclamada nas sinagogas e interpretadas pelas escolas» (Alberto Mello), afirma Manicardi, concluindo que o texto não permite qualquer substituição: Jesus não revoga a Torá/Lei, nem a substitui, mas faz-lhe uma interpretação radical.
A novidade do seu discurso é tão grande que sente necessidade de fazer uma catequese por contrastes. E realiza-a em quatro níveis: as relações fraternas, a honestidade dos desejos, o amor fiel e a confiança sincera.
A lei de não matar fisicamente, típica do Primeiro Testamento – que continua em pleno vigor – alarga-se a outras formas de eliminar alguém: a ira que irradia do coração, a imbecilidade e loucura que desconsideram e reduzem a dignidade do “irmão” em humanidade e na fé. Estes sentimentos negativos corroem o melhor do ser humano, da convivência social e da fraternidade cristã. Mantê-los ou cultivá-los degrada e desumaniza. Como sanear e pacificar o coração irado e restituir-lhe a energia da concórdia e da paz? Como repor a avaliação correcta do outro e restabelecer a relação fraterna?
Só a reconciliação, fruto do perdão, pode conseguir tal benefício, realizar semelhante maravilha. E Jesus mostra como é sublime esta atitude, apreciando-a mais que o próprio culto ritual. Um coração limpo, puro, pacificado, torna-se espelho desta felicidade integral, manifesta a fonte inesgotável donde provém e augura o ambiente de harmonia que, no futuro, gozarão os que verão a Deus.
A honestidade nos desejos, o amor fiel e a confiança sincera surgem como concretizações daquelas relações fraternas. A mulher tem a sua dignidade feminina que deve cultivar e o homem respeitar. De igual modo, o homem tem a sua dignidade masculina que deve cultivar e a mulher respeitar; o matrimónio tem - um “estatuto” singular que o qualifica e configura; o amor fiel é fruto de uma reciprocidade fecunda a valorizar; a confiança mútua garante uma estabilidade a fortalecer. Que alegria responsável velar pela sanidade do coração, sua pureza e transparência.
O Papa Francisco na mensagem para o XXVIII Dia Mundial do Doente, celebrado na terça-feira passada, expressa-se assim: “Penso em tantos irmãos e irmãs de todo o mundo sem possibilidades de acesso aos cuidados médicos, porque vivem na pobreza. Por isso, dirijo-me às instituições sanitárias e aos governos de todos os países do mundo, pedindo-lhes que não sobreponham o aspeto económico ao da justiça social. Faço votos de que, conciliando os princípios de solidariedade e subsidiariedade, se coopere para que todos tenham acesso a cuidados médicos adequados para salvaguardar e restabelecer a saúde. De coração agradeço aos voluntários que se colocam ao serviço dos doentes, procurando em não poucos casos suprir carências estruturais e refletindo, com gestos de ternura e proximidade, a imagem de Cristo Bom Samaritano”.
Pe. Georgino Rocha