«A riqueza do homem é a sua pessoa e não o seu dinheiro. Optar por tudo o que ajude a pessoa a ser livre, a sentir-se sem quaisquer amarras, a estar disponível para partilhar o que tem, a não acumular e reter bens apenas para si, torna-se indispensável à saúde da nossa comum humanidade, ao equilíbrio sustentado da ecologia integral e à qualidade da nossa fé cristã. Quem o faz ou se esforça com seriedade, por o ir fazendo, está em sintonia com Deus, é feliz e beneficia da sua bênção. Choca, inevitavelmente, com uma sociedade baseada na ambição da riqueza, na ânsia do poder e da glória. E vê recaírem sobre si as mais diversas formas de descrédito, de humilhação, de espoliação, de acusação infame, de morte silenciada.»
É apelo, que se faz convite e exortação, dirigido por Jesus aos discípulos, ao terminar o ensinamento sobre as bem-aventuranças. E a justificação vem logo a seguir: “Porque é grande, nos Céus, a vossa recompensa”. Mt 5, 1-12ª. A Igreja destaca esta garantia na festa de Todos os Santos que, hoje, celebramos. Quer assim proclamar “as grandes obras de Cristo nos Seus servos e oferecer aos fiéis os bons exemplos a imitar”. (Constituição Litúrgica nº 104 e 111)
Os discípulos são aconselhados a viverem a “causa de Jesus”, na alegria e exultação, sobretudo quando sofrem situações de difamação e insulto, de perseguição e enxovalho, à sua dignidade; situações criadas por serem coerentes com as atitudes de Jesus, o divino Mestre; atentados provocados por quem não tolera mais o seu estilo de vida, o seu testemunho, espelho da causa de Jesus.
O quadro de referências está traçado, os termos são claros, é grande a provocação e maior o desafio. A novidade da proposta de realização feliz, de toda a pessoa, vai ser solenemente anunciada. No cimo da montanha, como outrora Moisés no Sinai, Jesus declara honoráveis os pobres, por decisão própria, os espoliados injustamente do seu nome e dos seus bens, os generosos voluntários da paz, os perseguidos por defenderam a justiça. A honorabilidade provém de Deus porque estas atitudes reflectem e concretizam as suas preferências e o seu agir, continuam, na história, o estilo de vida do seu Filho Jesus e vão-se configurando, no proceder de cada discípulo e de cada comunidade cristã.
A riqueza do homem é a sua pessoa e não o seu dinheiro. Optar por tudo o que ajude a pessoa a ser livre, a sentir-se sem quaisquer amarras, a estar disponível para partilhar o que tem, a não acumular e reter bens apenas para si, torna-se indispensável à saúde da nossa comum humanidade, ao equilíbrio sustentado da ecologia integral e à qualidade da nossa fé cristã. Quem o faz ou se esforça com seriedade, por o ir fazendo, está em sintonia com Deus, é feliz e beneficia da sua bênção. Choca, inevitavelmente, com uma sociedade baseada na ambição da riqueza, na ânsia do poder e da glória. E vê recaírem sobre si as mais diversas formas de descrédito, de humilhação, de espoliação, de acusação infame, de morte silenciada.
Quem a estas desonras responde com mansidão e pureza de intenções, de paciência sofrida e desejo sincero de justiça, de misericórdia benevolente, manifesta o proceder de Deus e “corre o véu” que tantas vezes oculta a sua presença entre nós e abre caminho à comunhão definitiva com Ele e com todos os que nEle se encontram. Participa, deste modo, na comunhão dos santos! Vive já uma nova realidade que no futuro contemplará em plenitude.
“A sua oração nasce mesmo do coração, é transparente: coloca diante de Deus o coração, não as aparências”, garante o Papa Francisco ao comentar a parábola do fariseu e do publicano na homilia final do Sínodo dedicado à Amazónia. “Rezar é deixar-se olhar dentro por Deus – é Deus quem me olha, quando rezo –, sem simulações, sem desculpas, nem justificações. Frequentemente fazem-nos rir os arrependimentos cheios de justificações. Mais do que um arrependimento parece uma auto-canonização”. 27Out2019.
Aspirar à santidade e ser santo faz parte da realização plena da natureza humana, é fruto do amor de Deus por nós, da acção da Igreja como veículo do Espírito Santo, e do esforço de cada um e de todos para correspondermos a este amor enternecido que se humaniza de modos tão próximos e interpelantes.
Sede santos. Alegrai-vos e exultai. Será grande a vossa recompensa, garante Jesus.
Georgino Rocha