Três aspetos da Serra da Boa Viagem: O longe fez-se perto |
1. Esperada há muito, na precisa hora da partida para a
Figueira da Foz chega-me a revista LER com as habituais novidades do mundo
literário. Publicada nos princípios de cada estação do ano, desta feita trás o
registo de Inverno|Primavera. Pelo telefone, explicaram-me há tempos os
motivos: os colaboradores nem sempre respeitam os prazos estabelecidos. Está
perdoada a demora porque gosto da revista.
2. E da revista transcrevo um poema, o primeiro texto deste
número, na esperança de que me seja perdoada a ousadia de o fazer. O intuito é
tão-só para saudar a LER e quem a faz trimestralmente. Mas ainda quem
torna o mundo mais belo com a literatura, de que faz parte essencial a poesia:
E aqui ofereço um poema de João Luís Barreto Guimarães, que acolhe os leitores
na badana da capa.
Nómadas
Só o amor pára o tempo (só
ele detém a voragem)
rasgámos cidades a meio
(cruzámos rios e lagos)
disponíveis para lugares com nomes
impronunciáveis. É preciso percorrer os mapas
mais ao acaso
(jamais evitar fronteiras
(jamais evitar fronteiras
nunca ficar para trás)
tudo nos deve assombrar como
neve
em Abril. Só o amor pára o tempo só
em Abril. Só o amor pára o tempo só
nele perdura o enigma
(lançar pedras sem forma e o lago
devolver círculos).
Do livro Nómada (2018)
Incluído na antologia
O Tempo Avança por Sílabas.
Publicado pela Quetzal em 2019.
3. Depois, fui à varanda olhar a paisagem da serra da Boa Viagem,
um desafio para quem vem ou passa por aqui. Gosto do sussurro do arvoredo, aqui
e ali com mar à vista, do casario disperso com acessos sinuosos, com vida de
quem aprecia a beleza da solidão, beleza esta que não será para todos, mas
apenas para os que sentem prazer em olhar para o seu interior, irradiando paz
para o mundo sôfrego de compreensão e solidariedade.
Fernando Martins