sexta-feira, 24 de agosto de 2018

FICAR COM JESUS POR DECISÃO LIVRE

Georgino Rochs

O discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A sinceridade denota um sabor de amargura. A preocupação manifesta um receio fundado. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão. A circunstância, aliada ao tom da voz e ao brilho do olhar, provoca a resposta eloquente de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Jo 6, 60-69.
“Quando se vive esta união com Jesus (tal era o caso de Pedro e dos discípulos que ficaram com Ele), as crises de dúvidas e obscuridades se superam. A força do Espírito faz-se força em nossa vida… É a vida que se caracteriza pela firmeza em ir na vida como foi Jesus e pela transparência de quem não tem nada a dissimular”, afirma J. M. Castilho, no seu comentário ao episódio de Cafarnaúm.
Jesus e Pedro surgem como o rosto pessoal da relação com Deus. Constituem as duas faces da realidade mais profunda da consciência: acolher a oferta, dar-se em liberdade; escutar a palavra, abrir-se à verdade; identificar o dom e fazer-se doação. Por isso, afirma João Paulo II: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”. O Papa propõe, na encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão), uma belíssima e fundamentada reflexão sobre a verdade, questão central da vida humana e da história da humanidade.
“Também vós quereis ir-vos embora?” Jesus vê-se rodeado do último reduto: o grupo apostólico, pois a multidão, os judeus e muitos dos discípulos já o haviam abandonado. Pelas mais diversas razões: desilusão das expectativas, afirmações controversas, linguagem dura e insuportável. E a pergunta continua actual. E a realidade, também: a desilusão dos que procuram um Jesus/Deus mágico, pronto a servir, substituto do homem, ainda que para isso seja preciso anular a sua liberdade humana responsável; a controvérsia em torno das “velhas” questões como o conflito fé-ciência, confundindo métodos e níveis de reflexão e outros; linguagem dura, reduzida ao sentido literal, linear, e esquecendo o alcance do simbólico, mais adequado para nos abrir ao mistério e ao transcendente. Sem esquecer outras razões – que as há e sérias – no panorama actual Deus parece irrelevante, Jesus aceita-se como bom guru, a Igreja dilui-se como comunidade de fiéis cristãos, o Evangelho perde a “cafeína social” e o catolicismo dissolve-se na (quase) insignificância.
“A quem iremos, Senhor?” Interroga-se a humanidade pela voz de Pedro. Todos nos dão respostas efémeras e nos “servem” produtos de pouca duração. A história constitui o memorial deste valor reduzido. A experiência de vida, acumulada em sabedoria, mostra-nos à-evidência que só “Tu tens palavras de vida eterna”, consistentes e definitivas, firmes e credíveis. E testemunha-o o exemplo heróico de tantas pessoas bondosas e de muitos santos e mártires. De todas as condições sociais e étnicas. De tantas famílias que celebram este domingo com o Papa Francisco a parte final do seu IX Encontro Mundial com o emblemático lema: “O Evangelho da família: Alegria para o mundo”.
Ficar com Jesus por decisão livre iluminada pela fé. Aprender com Jesus que tem palavras de vida eterna e se faz nosso alimento na eucaristia.

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