Na minha infância e juventude estive doente diversas vezes. Doenças que me obrigavam a tratamentos constantes, onde pontificavam as injeções. Durante alguns períodos, as injeções eram diárias. Mas o mais grave veio depois, em plena juventude, com os pulmões a obrigarem-me a ficar acamado, alternativa a seguir para o Caramulo. «Se fizer o que lhe mando, não será preciso ir para um sanatório, no Caramulo», disse o Dr. Ribau à minha mãe. E ela comprometeu-se.
Mais de dois anos na cama, sem TV, que nem era sonhada, e sem rádio. Vingava-me na leitura, ajudado pelos meus amigos Ribaus, que me emprestavam os livros dos seus tios, já então falecidos, Dr. Josué Ribau e Padre Diamantino Ribau. Mas também do avô materno, Manuel Ribau Novo, lavrador e grande impulsionador e responsável pela construção da nossa igreja matriz.
Quando o meu pai chegou da viagem, passou pela porta do meu quarto. Não entrou e estranhei. A minha mãe apressou-se a informar-me que o meu pai estava a chorar por eu estar acamado. Dizia-se, assegurou-me ela mais tarde, que eu estaria condenado ao destino de tantos outros doentes pulmonares, que morreram na altura.
Quando o meu pai chegou junto de mim já vinha a sorrir com os olhos vermelhos. E dias depois comprou este rádio para eu passar o tempo. Ficou instalado na mesa de cabeceira e só mais tarde é que ocupou o seu lugar definitivo na sala, ligado a uma antena amarrada no telhado de uns vizinhos amigos. Mas do rádio falarei mais um pouco, um dia destes.
Fernando Martins