Um livro de Manuel Olívio Rocha
Não sendo do Porto, a cidade invicta, gosto muito do Porto, e quando lá vou, mesmo de fugida, regalo-me com o casario antigo e suas ruas e ruelas estreitas, mais do que das grandes avenidas e do corre-corre das pessoas com ares de permanentemente atarefadas. Mas ainda gosto de ler o que me aparece sobre a mui nobre e invicta cidade onde, há séculos, os fidalgos tinham algumas restrições em ali passar mais dias do que ditavam as leis dos homens bons. E quando me chega um livro da terra que deu nome a Portugal, então ainda mais me prendo ao burgo, também designado por capital do Norte… com muita honra dirão muitos. Vem isto a propósito de um livro, em edição familiar, que me foi oferecido pelo meu familiar e amigo, Manuel Olívio Rocha, ali radicado há décadas.
“FRANCOS — Caminhos Percorridos”, de sua autoria, tem edição da Paróquia de Nossa Senhora da Boavista, com capa de Domingas Vasconcelos e impressão e acabamento de “Clássica, Artes Gráficas”. O livro, que tem 247 páginas, com ilustrações a cores e a preto e branco, apresenta um recheio que vem desde o século X até aos nossos dias, merece ser lido. É justo sublinhar que o autor, meticuloso na busca, na análise, na seleção, no encadeamento dos acontecimentos e na forma escorreita que usa no que escreve e publica, merece o nosso aplauso e o apreço de todos os residentes na paróquia de Francos, mas não só.
Manuel Olívio refere, em Agradecimentos, os que o ajudaram nas suas pesquisas e pede compreensão «para eventuais imperfeições, omissões ou erros» involuntários, mas eu estou em crer que o muito que nos apresenta, como fruto de laborioso trabalho, nem tempo nos dá para considerações críticas. Confesso que, na leitura que fiz, só tive oportunidade de me sentir enriquecido pelo que aprendi. E desde já o meu muito obrigado pela oportunidade que me foi dada para mais ficar a gostar do Porto e das suas gentes.
Na Introdução, o P.e Giulio Carrara, s.c.j. afirma que o livro de Manuel Olívio Rocha lhe despertou «lembranças de um tempo bonito e feliz, mas também difícil e trabalhoso», desde «a criação da paróquia da Boavista» e da sua nomeação como «primeiro pároco». «Voltaram-me à memória, acontecimentos e pessoas, com as suas características pessoais, e, sobretudo, com a sua fé, generosidade, amizade e colaboração», disse.
Em Pés ao Caminho, o autor sublinha que, ao aceitar o convite para a elaboração do sua obra, «começou então uma longa caminhada» que o levou «a percorrer becos, travessas, ruas e avenidas; mas também milhares de páginas de livros, revistas, cadernos e folhas de notas e apontamento», mas ainda abriu «os ouvidos e o coração às histórias e vidas que foram desenrolando» à sua frente e que teve o «privilégio de partilhar».
Manuel Olívio frisa que «Francos, que, até ontem, era uma imagem algo distante, vaga e dispersa, hoje revela-se uma Comunidade viva e activa, embora com as suas características, limitações e valências». Admite que, «além dos caminhos percorridos, outros poderiam ter sido trilhados». Contudo, «a Comunidade, a um passado rico motivador, saberá acrescentar caminhos novos que a levarão rumo a um futuro mais aberto à fraternidade, à entreajuda, ao Amor».
Além dos nove capítulos, onde se registam os passos da comunidade desde o século X aos nossos dias, o leitor ficará a conhecer Francos, da paróquia de Ramalde a N.ª S.ª da Boavista, o relato de uma epopeia, estruturas para o caminho, grupo pastoral de Francos, mas ainda do culto (zeladores, coro, leitores, acólitos, procissões e novenas, entre outras rubricas) e da formação (catequese, aulas de moral e religião católica, crisma, escoteiros, grupos de casais, etc.). Também da partilha (infantário – jardim infantil, centro de dia, escola noturna, centro de enfermagem, horta social, janeiras, angariação de fundos, entre outras atividades).
No Posfácio, o P.e Feliciano Garcês, s.c.j. salienta: «Ao longo das páginas deste trabalho podemos ver os passos dados. Uma história bonita construída por muitas histórias, muitas circunstâncias e situações que muito orgulham todos os que dela e delas fizeram parte.» E sobre o futuro, acrescenta: «Cabe a todos nós, membros desta comunidade, discernir os sinais de Deus, para dar resposta de fé aos desafios que nos surgem. Sem dúvida que há um caminho pela frente, muitas coisas bonitas para realizar.»
Fernando Martins