Leio as tuas cartas que não existem
mas leio sempre até à última linha
precisamente naquela em que educadamente
te despedes
depois torno a dobrar exactamente
pelos mesmos vincos
sem jamais os virar ao contrário
e meto no sobrescrito
ah! já se não diz
meto no envelope
e com cautela e meticulosidade
rasgo-as
e os pedacinhos como folhas sem sentido caem
no cesto dos papéis
que também não existe
como eu gosto de ler as tuas cartas
Francisco D’Eulália, ‘Lelo’,
In “Canto Longo & Outros Poemas”,
Modo De Ler
setembro de 2015
NOTA: Por sugestão do Caderno Economia do EXPRESSO