Festa da Ascensão do Senhor |
Jesus vive momentos decisivos na sua missão. Escolhe um monte na Galileia para o encontro definitivo com os discípulos. Estes ainda têm dúvidas em relação ao acontecimento da ressurreição do Crucificado que agora vive para sempre. Apesar disso, prostram-se em gesto de adoração reverente e humilde e ficam na expectativa do que vai acontecer. Será censura pela sua incredulidade ou aprovação pela obediência de deixarem Jerusalém e virem para esta região, a terra dos gentios? Ou será antes alguma surpresa que o Mestre tem reservada para a hora da despedida? Aguardam.
Jesus toma a palavra com solenidade inusitada. “Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações…”. Mateus, o autor do relato, apresenta este envio a abrir novos horizontes à sua narrativa. Não faz qualquer referência à reacção dos apóstolos. Mas não será difícil de pressentir. Eles, fugitivos aquando da paixão, trancados em casa em Jerusalém, marcados pela experiência da missão entre os judeus… assumem o mundo e, nele todos os povos e cada pessoa, como “campo de trabalho”, como terra a evangelizar. Tarefa de gigantes para homens tão frágeis! Encargo de heróis para gente tão comum! Serviço de santos profetas para quem ainda sentia dúvidas. Jesus, hábil Mestre, conhecia-os bem e adianta-se na ajuda a oferecer-lhes. “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos”. E promete enviar-lhes o Espírito da fortaleza e da sabedoria.
A missão dos discípulos/Igreja é clara: Ensinar o que Jesus viveu e que se pode resumir a fazer sempre a vontade de Deus Pai. São Cipriano, bispo e mártir, fala assim aos cristãos de Cartago: “O que Cristo fez e ensinou foi a vontade de Deus: a humildade na conduta, a firmeza na fé, a contenção nas palavras, a justiça nas acções, a misericórdia nas obras, a rectidão nos costumes; ser incapaz de fazer o mal, mas poder tolerá-lo quando se é vítima dele; manter a paz com os irmãos; querer ao Senhor de todo o coração; amar nele o Pai e temer a Deus; não pôr nada à frente de Cristo, pois Ele próprio nada pôs à nossa frente”.
A Igreja tem a missão de ver a realidade com os olhos de Jesus que sempre detesta o que indigno e desonesto, maldizente e corrupto, e ama entranhavelmente as pessoas envolvidas nessas situações para que se libertem. A missão de se fazer próximo de todos e de cada um para partilhar alegrias e tristezas, êxitos e insucessos, para oferecer e receber ajuda numa reciprocidade enriquecedora. A missão de investigar a trama dos acontecimentos e descobrir o seu rumo de modo a anunciar Jesus como boa notícia, como sentido pleno de todos os caminhos da história.
O Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais que hoje se celebra, recorre a uma metáfora muito expressiva para explicitar o envolvimento a que estamos chamados. “Já os nossos antigos pais na fé falavam da mente humana como de uma mó de moinho que, movida pela água, não se pode parar. Mas o moleiro tem a possibilidade de decidir se quer moer trigo ou joio. A mente do homem está sempre em acção e não pode parar de «moer» o que recebe, mas cabe a nós decidir o material que lhe fornecemos (cf. Cassiano o Romano, Carta a Leôncio Igumeno). O lema da referida mensagem é "Comunicar esperança e confiança no nosso tempo".
Cabe a nós decidir o que entra na nossa mente e, a partir dela, o que se faz conversa, comentário, opinião, convicção. O que se faz e difunde em comunicação a todos os níveis. Quem aprecia a saúde mental e cultural, relacional e espiritual, designadamente os discípulos de Jesus, a Boa Notícia por excelência, tem de estar preparado e tomar posição pelas notícias, boas e positivas, que geram apreço pela nossa comum humanidade e sua elevação ética, que geram laços de fraternidade universal e fomentam a harmonia do universo.
Ouçamos, de novo a voz do Papa Francisco na sua mensagem para este Dia. “Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas «notícias más» (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de fracasso nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seria ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num optimismo ingénuo que não se deixe atingir pelo escândalo do mal. (…) Gostaria, pois, de dar a minha contribuição para a busca de um estilo de comunicação aberto e criativo que não se prontifique a conceder ao mal o papel de protagonista, mas procure evidenciar as possíveis soluções, inspirando uma abordagem propositiva e responsável nas pessoas a quem se comunica a notícia. A todos gostaria de convidar a oferecer aos homens e às mulheres do nosso tempo relatos permeados pela lógica da «boa notícia»”. Gosto que é apelo a todos/as nós.