Acabo de reunir-me.
Sou uma gruta de silêncio e sombra.
Co’a vida, musgo suave,
pedra real e quimera,
um anjo grave
(longos dedos, voo de ave!)
faz um berço e uma espera…
Nos horizontes brumosos
resvalam os séculos vagarosos…
Cai na neve e no silêncio
a flor do Tempo.
Dobram os ramos cimeiros
árvores, céus à terra vil.
Chegam os reis e os cordeiros
(o palácio é um redil!)
e nasce Deus!
(Écloga impossível)
João Maia
In "Anunciação e Natal na Poesia Portuguesa",
Antologia de António Salvado