sábado, 10 de setembro de 2016

Uma aventura no Metro de Moscovo

Crónica de viagem de Maria Donzília Almeida 





Quatro aspetos do Metro de Moscovo 

Uma visita, ao Metro de Moscovo, constitui por si só, uma aventura na capital da Rússia. 
Entrar no metro é como entrar num palácio subterrâneo, ou numa imensa galeria de arte. Invade-nos um sentimento de admiração, perante a grandiosidade desta obra. Construído em pleno domínio soviético por Estaline, é um hino de glorificação ao regime e uma eficaz forma de propaganda do Politburo soviético. 
Com 188 estações, mais de 313 km de comprimento e com uma profundidade que chega aos 84 metros em algumas estações, o metropolitano de Moscovo encetou um desenvolvimento grande e progressivo desde a sua abertura, em 1935. Nele está bem patente a cultura soviética num rasto de imperialismo. 
Faz parte do conjunto de metropolitanos mais antigos do mundo e permanece sendo o terceiro metropolitano mais usado pelos passageiros, logo a seguir ao metro de Tóquio e ao metro de Seul. 
Os primeiros planos de construção de uma rede metropolitana remontam, na prática, ao período pós-I Guerra Mundial, pós-Revolução Russa e pós-Guerra Civil e os primeiros estudos datam dos anos 20 do século passado até ao início dos anos 30. 
No entanto, uma construção desta envergadura começou a ser pensada nos tempos do Império Russo e o sentido do grandioso e da ideologia nunca deixaram de estar patentes. A exposição e a promoção de temas socialistas por entre o espaço público, potencia um discurso de unidade na voz de Joseph Estaline. Quanto mais tempo o mesmo regime político durasse, mais oportunidades teria para a posteridade. 
É sabido que o metro de Moscovo serve para transportar, mas a sua grandiosidade interior não reflete apenas um sinal da cultura mas sim, um eficaz meio de propaganda. Criar uma obra desta envergadura para servir o povo, é uma forma demagógica de ter o povo nas mãos! Serve aquele que o há de idolatrar com profunda gratidão. O estado é um deus! 
Apesar da decisão da construção deste transporte ter sido tomada pelo Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, trabalhos de design e os planos de construção foram entregues a especialistas do metro londrino. 
A opção por escadas rolantes em vez de elevadores, entre outros detalhes, foi um contributo para a modernidade nos transportes públicos, numa União Soviética em progressivo desenvolvimento económico. 
Tão acessível ao povo, até alguns cães vadios utilizam este meio de transporte na procura de subsistência. Sem perder o rumo, estes cães apanham o metro de manhã em direção ao centro da cidade onde buscam comida e regressam, no final do dia, para os subúrbios da cidade. São os chamados cães proletários! Alguns, os de raça, vivem nas mansões com os seus donos e têm transporte privado! 
Para sentirmos de perto esta realidade moscovita, fizemos uma pequena viagem em três ou quatro estações. Foi um deslumbramento quando entrámos nesta imensa galeria de arte. 
As escadas rolantes são imensas, íngremes e quase a perder de vista o seu términus. A velocidade a que andam é assustadora! 
Foi apoteótico-trágica esta aventura, pois teve o seu clímax…tal como na tragédia grega de Sófocles. 
Dada a velocidade a que se movem as escadas rolantes, é imperioso que a entrada nelas se faça com elevado grau e concentração. Qualquer pequeno deslize é a morte do artista! 
Assim aconteceu com um elemento do grupo, que mal pôs o pé no primeiro degrau e a mão no corrimão, se estendeu ao comprido naquela avantesma de escada. Foi uma queda aparatosa, ali, naquela galeria de arte que foi cenário de um espetáculo grotesco, digamos, uma tragicomédia! Mas o que vale é que quase ninguém viu, de tão preocupado que cada um estava com a sua própria segurança. Baldão daqui, baldão dali, até que uma voz (de anjo?!) murmurou: — Senta-te! 
A partir daí, como por milagre, tudo voltou à verticalidade inicial, o equilíbrio foi retomado e o “acidentado” chegou ao términus da escada rolante, pelo seu próprio pé, são e ileso! Sem um hematoma, sem uma escoriação! Graças? À N.ª Sr.ª de Kazan que já passou por território português e sentiu o fervor do seu povo. 
— Só quem tem um grande Don… para resistir aos embates da vida! — comentou alguém...

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