sábado, 7 de maio de 2016

A Bênção de Jesus, Fonte da Alegria no Amor

Reflexão de Georgino Rocha

Betânia
Jesus leva os discípulos para as proximidades de Betânia, terra de referência para algumas iniciativas da sua missão, ergue as mãos estendidas e abençoa-os. Depois, oculta a sua presença física, indicando outro modo de estar com eles e de os acompanhar na missão de serem suas testemunhas. Promete-lhes o Espírito Santo que, em breve será enviado, promessa cumprida na celebração que a Igreja faz no Pentecostes. Será ele a luz da memória, a força do testemunho no presente e o guia dos caminhos a percorrer rumo ao futuro desejado.
Sem Jesus na liderança visível, os discípulos ficam perante os desafios que surjam no cumprimento fiel do mandato que receberam. Recorrem, por isso, à oração comunitária, promovem assembleias conjuntas, apelam à participação de quem está envolvido, bendizem a Deus pelas maravilhas que vão fazendo em nome de Jesus ressuscitado. Exemplos deste modo de proceder são a escolha de Matias para “ocupar” o lugar de Judas, o traidor, o processo de eleição dos “diáconos” para o serviço das mesas, o “concílio” de Jerusalém para dirimir a questão de saber se para ser cristão é preciso ou não praticar antes os ritos judaicos. E surge a sentença normativa para o agir das comunidades eclesiais: “Decidimos o Espírito Santo e nós…”
Animados pelo Espírito, crescem na alegria do amor, na entrega confiante, no ardor da missão, na comunhão fraterna respeitadora das diferenças legítimas, na responsabilidade comum e na autonomia pessoal. Afirmam a novidade do tempo histórico, que é o da Igreja, em que a “liderança” humana tem um guia indissociável: o Espírito Santo que distribui os seus dons por aqueles que lhe são fiéis.

Nem sempre a história regista esta clareza, surgindo fases marcadas pela absorção da responsabilidade quase total por alguns e pela passividade servil da grande maioria. E chegou-se a defender que assim estava bem porque correspondia à vontade explícita de Jesus. No entanto, o Espírito vem suscitando dinamismos de renovação e a Igreja com o Papa Francisco parece “estar a mexer-se” e a procurar ser mais fiel ao projecto inicial.

Lucas, o autor da narração da Ascenção, dedica a este “momento” solene duas versões: a que marca o final do seu Evangelho e a que inicia o livro dos Actos dos Apóstolos. Faz assim a ponte entre a sequência do que acontece. Recorre a uma linguagem espácio-temporal: a do sobe e desce, a de ir e vir, a do céu e da terra, a do olhar fixo nas alturas e do percorrer os caminhos da vida, chegar aos confins do mundo. São imagens muito expressivas, cheias de simbolismo e de grande sentido para o nosso tempo, Vale a pena deter-nos em algumas.

Ascenção, hoje, para elevar o apreço pela vida, sobretudo humana e mais desprotegida, libertar de todas as dependências “obsessivas” tecnológicas e comunicacionais, derrubar os muros da indiferença, da injustiça e da morte, resgatar do cativeiro os vendidos na sua dignidade e os endividados/enganados na penhora dos seus bens, superar vícios deprimentes e costumes desumanizantes. Ascenção para ir como samaritano pelos caminhos da vida e tirar as cataratas dos olhos velhos, parados no tempo, míopes no presente e fechados ao futuro aberto à novidade do Espírito. Ascenção para oferecer razões de esperança, despertar o instinto criativo, interpretar os sinais dos tempos, avivar continuamente a consciência de que o Pai nos aguarda com ternura e misericórdia.

Erguer e estender as mãos sobre a humanidade ferida, a terra maltratada, a criação desregulada e adulterada, a Igreja lenta na saída missionária e no ritmo da renovação fiel, os cristãos e suas associações a necessitarem de acertar o seu relógio pela hora de Deus que, humanamente, se manifesta no “hoje”, seus dramas e suas vitórias. Manter as mãos erguidas e estendidas para dar ânimo, ser prestável, cooperar, abençoar.

Abençoar para bendizer o bem anónimo que se faz e quem o faz, os portadores de boas notícias, os mensageiros do Evangelho da alegria e do amor, os semeadores de esperança e de humor. Abençoar para fazer surgir o apreço pela família, o jeito de ajudar quem se encontra desiludido nos sonhos que idealizou e “ferido” no desejo de ser feliz.
Abençoar para que a nossa vida seja uma bênção de Deus. Na alegria do amor. Sendo testemunhas de Jesus ressuscitado. Com a força do Espírito Santo. Para que brilhe em nós o novo rosto de Cristo.

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