Reflexão de Georgino Rocha
«Jesus sai ao encontro
de quem vence preconceitos
e se põe a caminho
na mais maravilhosa aventura espiritual»
Jesus ressuscitado continua a surpreender, a provocar encontros que rasgam novos horizontes de vida, a aproveitar as mais diversas circunstâncias para atestar a sua presença real no meio de nós. E o evangelista João, por meio da comunidade a que deu origem, faz a narração de modo belo e eloquente.
O medo fechava o coração dos discípulos e ameaçava matar toda a esperança. O desânimo e a inquietação provocaram um vazio de pasmo angustiante e forçaram-nos a trancar-se na sala da casa onde se encontravam. A lembrança dos últimos acontecimentos agravava a situação sofrida: a morte do Mestre, a hipótese provável de lhes acontecer o mesmo, a debandada e a procura de esconderijo, o encarar um futuro sem saída airosa e consistente.
Jesus ressuscitado surpreende-os completamente. Coloca-se no meio do grupo reunido, saúda-os com o desejo da paz reconfortante, dá-se a conhecer mostrando as cicatrizes da crucifixão, aguarda paciente a sua reacção. Ao verificar a alegria que desponta em cada um, concede-lhes o Espírito Santo, confia-lhes o perdão dos pecados e envia-os em missão de anúncio jubiloso. Que generosidade da parte de Jesus! Que misericórdia para com os discípulos recuperados! Que atitude vinculante a estes homens que constitui seus mensageiros!
Este legado está nas nossas mãos. Agora é a nossa vez. Como eles, somos interpelados a ver, a ouvir, a exultar e a aceitar a missão que nos confia. Com alegria e audácia!
O episódio de Tomé vem trazer uma nova dimensão a esta mensagem. Ausente da comunidade, duvida com seriedade do anúncio que lhe fazem. A tragédia havia sido tão grande que lhe parece impossível o que acaba de ouvir: O condenado morto estar vivo, ter aparecido ao grupo e feito as pazes com ele. Não! Era demais para um homem honrado. Bendita dúvida, sinal de uma mente sadia, de uma razão natural consistente. Porta aberta para todos os que pretendem chegar a compreender a ressurreição de Jesus e, nele, a do ser humano, pelo bom senso da razão e pelas ciências positivas. Quem o quiser fazer, e oxalá sejamos todos!, tem de procurar outra via e de se abrir à novidade da fé cristã.
Jesus sai ao encontro de quem vence preconceitos e se põe a caminho na mais maravilhosa aventura espiritual. Toma a iniciativa e surpreende Tomé. Prontifica-se a satisfazer as exigências postas. Convida-o a aproximar-se, a não ser incrédulo, mas crente. Supera as objecções. Recebe de Tomé a mais bela profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”. E deixa aberta a via de acesso a todos os inquietos de espírito e “filósofos” de assuntos religiosos: Escutar a sua palavra na voz dos silenciados, ver as cicatrizes das suas chagas nos feridos da vida, ouvir e atender os seus lamentos de dor, aproximar-se de todos os sem nome e sem documentos, meter as mãos solidárias em causas de humanização, confiar no testemunho dos que estão envolvidos na obra gigantesca de cuidar da criação e da terra, nossa casa comum.
Jesus deixa a sua Igreja como peregrina e acompanhante de quantos se encontram em busca de razões válidas para crer e necessitam de ver a novidade que a fé introduz na existência humana. Que alegria e responsabilidade! Oxalá que quem procura possa encontrar nesta Igreja a comunidade acolhedora e solícita que alimenta a esperança e dá conforto, que ajude a vencer resistências e a alcançar certezas firmes.
Tomé, homem honesto, tinha um irmão gémeo. Interrogam-se os estudiosos sobre quem seria. E quase sempre concluem que o único nome que pode dar a conhecer o gémeo de Tome é o teu, o meu, o de todos os que estamos à procura de Jesus ressuscitado na vida, na história, no tempo que nos é dado viver. Oxalá o encontremos e com Ele vivamos a alegria de pessoas e comunidades ressuscitadas, testemunhas de que outro mundo é possível e de que a esperança constitui a energia vital para a sua construção.