Diretor do Correio do Vouga
e elevação, não é para todos.
Ele sempre foi mestre, e nobre mestre,
nesta tarefa de abrir os corações e os espíritos
ao sol do otimismo e da esperança»
O País toldou-se de cinzenta tristeza: Nicolau partiu sem avisar! E o seu humor vai fazer falta a muita gente. Saber gerar sorrisos com arte, com delicadeza e elevação, não é para todos. Ele sempre foi mestre, e nobre mestre, nesta tarefa de abrir os corações e os espíritos ao sol do otimismo e da esperança. Com critérios e pautado por princípios de um respeito assinalável pela dignidade da pessoa humana. E fê-lo com pontaria cirúrgica, com o seu sarcasmo político e social, denunciando vícios, ridicularizando comportamentos…, sempre de uma forma divertida e alegre.
Vários dos comentários à morte deste ator, produtor e realizador, a quem a cultura portuguesa tanto fica a dever, sublinharam a sua condição de católico praticante, seguramente inspiradora da sua constante alegria, da sua amabilidade e afabilidade sem fronteiras. Pressentiu-se em alguns desses comentários o efeito do testemunho de fé deste insigne português, com uma afirmação, mesmo que hesitante, da convicção de que ele continua connosco e, porventura, a beneficiar-nos com a sua arte, agora junto de Deus.
No meio das artes, nem sempre se cultiva esta vertente transcendente da vida, o acolhimento do divino, não como um colete de forças, mas como uma força nova que nos transforma e sublima as nossas qualidades, que sobretudo nos abre a uma entrega dos nossos dons para serviço dos outros. “Nicol” fê-lo de uma forma sublime.
A par com este acontecimento, sucede a primeira visita de Estado do Professor Marcelo Rebelo de Sousa como presidente da República Portuguesa. Naturalmente, para aqueles que classificaram o seu discurso de investidura como “conservador”, é estranha essa decisão. Falta de memória, que o senhor Presidente esclareceu: a Santa Sé foi, segundo costume da época, a entidade que deu nascimento oficial e identidade à nação emergente. E entende como seu dever dirigir-se às fontes que deram início ao plasmar deste “jardim à beira mar plantado”.
Já agora, seria interessante recordar que o dia cinco de outubro, antes de ser o dia da implantação (ou imposição) de uma República, é o dia de registo de nascimento de Portugal. Até porque, reclamar esse feriado pela República é lembrar uma conspiração de usurpação do poder, sem o voto explícito da vontade popular. “Nada de novo debaixo do sol” - dirão alguns, constatando que a história se repete.
Gestos com sentido, senhor Presidente e saudoso Nicolau, que apreciamos e sinceramente agradecemos!