terça-feira, 15 de março de 2016

Aldeias históricas

Crónica de Maria Donzília Almeida

Contemplação
Arco
Casa restaurada


Cegonhas 
Sortelha

«Se você deseja viajar longe e rápido, viaje leve. 
Deixe para trás todas suas invejas,
 ciúmes, incapacidade de perdoar, 
egoísmo e medos.»

Glenn Clark

"Por Terras de Portugal” é o título de um livro arrumado na estante, há já longos anos. “À Descoberta de Portugal” foi sempre o meu desiderato, tantas vezes adiado, por motivos profissionais. A minha ânsia de conhecer os lugares recônditos deste nosso torrãozinho natal, que encerram tanta beleza, começa a concretizar-se agora, nesta nova etapa da vida. Quando temos amigos a ajudar à festa… o sonho aproxima-se mais da realidade.
O projeto de fim de semana encaminhou-nos para terras do interior, com passagem pela cidade dos cinco “F’s”, cuja designação sempre me intrigou. Fiquei finalmente a conhecer o seu significado:
FORTE: a torre do castelo, as muralhas e a posição geográfica demonstram a sua força;
FARTA: devido à riqueza do vale do Mondego;
FRIA: a proximidade à Serra da Estrela explica este F;
FIEL: porque Álvaro Gil Cabral – que foi Alcaide-Mor do Castelo da Guarda e trisavô de Pedro Álvares Cabral – recusou entregar as chaves da cidade ao Rei de Castela durante a crise de 1383-85. Teve ainda fôlego para combater na batalha de Aljubarrota e tomar assento nas Cortes de 1385 onde elegeu o Mestre de Avis (D. João I) como Rei;
FORMOSA: pela sua natural beleza;
O nosso destino foi as Termas do Cró situadas a 15 km do Sabugal. Existem indícios da utilização das águas medicinais que apontam para uma possível presença romana no local, mas a referência mais antiga ao Cró é de 1726, da autoria de Francisco F. Henrique, que já falava dos notáveis efeitos curativos dos banhos. Os primeiros exames das águas terão sido efetuados na Academia Politécnica do Porto, em 1891. 
O Município do Sabugal adquiriu o local em 1980 e iniciou uma nova era de reabilitação e dinamização. 
Depois de passar por várias vicissitudes, o resultado assume-se em 2011 com a abertura de um moderno balneário com uma água fracamente mineralizada, cuja composição Iónica é Sulfúrea, Bicarbonatada, Sódica.
Para dar apoio às termas, num espaço contíguo existe o Cró Hotel Rural, um conceito inovador de hotelaria em espaço rural.
Inserido numa envolvente paisagem natural em que diferentes elementos se unem numa simbiose perfeita, o Cró Hotel Rural leva-nos por entre rios, serras, bosques, caminhos, histórias e memórias.
Pelas suas propriedades, estas águas estão indicadas para tratamento de problemas reumáticos, músculo-esqueléticos e afeções respiratórias. Muitos aquistas procuram-nas, também, para problemas de pele: psoríase, eczema, úlceras. As águas medicinais do SPA Termal do Cró têm utilização milenar e reconhecimento oficial desde o Séc. XVIII.
Fazer uma caminhada por caminhos esconsos por entre maciços graníticos, é respirar saúde e ganhar apetite para saborear a gastronomia local – o javali esteve na ementa.
Nas imediações, visitámos Sortelha, uma das mais belas e antigas aldeias portuguesas, cuja fisionomia urbana e arquitetónica inalterada até aos nossos dias, é considerada uma das mais bem conservadas. A visita pelas ruas e vielas do aglomerado, enclausuradas por um anel defensivo e vigiadas por um sobranceiro castelo do séc. XIII, possibilita ao forasteiro recuar aos séculos passados, por entre as sepulturas medievais, junto ao pelourinho manuelino ou defronte da igreja renascentista.
Aldeia fronteiriça de fundação medieval, com foral concedido em 1228, Sortelha só perderá este estatuto concelhio com a reorganização administrativa feita pelo estado liberal no séc. XIX. Mantém o seu legado medieval, o casario que se espraia como um regular anfiteatro de granito aninhado entre as muralhas, à sombra da silhueta altiva da torre de menagem, memória das estórias da primeira história de Portugal.
Ao calcorrearmos as pedras gastas pelo tempo vem-nos à memória a epopeia dos nossos antepassados, ali bem patente. 
Conhecemos, numa lojinha local, os trabalhos em bracejo, uma fibra vegetal da região, que constituem o selo de qualidade de todo o artesanato do Sabugal. Graciosas cestinhas das mais variadas formas e feitios emergem das mãos ágeis das artesãs que minuciosamente transformam o bracejo. Há ainda uma grande motivação pelos tapetes tipo “Arraiolos”, a arte do cabedal, o queijo e o pão artesanal.
Assim se cumpriu mais uma incursão neste país rural que quer crescer e se está a revelar através do empreendedorismo da nossa gente jovem.

15.03.2016

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