A peça sobe ao palco
no Centro Cultural de Ílhavo,
dia 31 de janeiro, pelas 17 horas
O leitor da peça de teatro “Filinto — O poeta amargurado”, de Senos da Fonseca, fica com conhecimentos de quem foi este ilhavense, caído no esquecimento, injustamente, graças ao trabalho e rigor de Senos da Fonseca. Trata-se de uma obra que poderia ser classificada como «engenharia literária ou literatura engenhosa», sendo certo que «literatura é beleza», afirmou Rita Marnoto, no sábado, 16 de janeiro, na sede da Junta de Freguesia de S. Salvador, Ílhavo, na apresentação do livro.
Rita Marnoto, docente da Universidade de Coimbra, é uma ilhavense que sente prazer um estar em Ílhavo, «as suas raízes». «Ílhavo é o único sítio onde chego e sou identificada», mas também «onde recordo os afetos que me tornam grata».
Referindo-se a Filinto Elísio, de seu nome Francisco Manuel do Nascimento, nascido em Lisboa, mas de raízes ilhavenses, Rita Marnoto afirma que o trabalho de Senos da Fonseca «recupera um homem pouco estudado», tal como está a acontecer com diversos escritores da nossa terra, nomeadamente, Alexandre da Conceição e Mário Sacramento, entre outros. Contudo, frisa que a obra de Filinto foi recentemente reeditada, graças, aliás, à sua intervenção pessoal, quando indicou o escritor para constar da lista de autores que mereciam a reedição.
Salienta, entretanto, que Filinto Elísio foi um grande escritor e «um tradutor muito avançado para a época, por ter visões muito alargadas», mas ainda possuía «uma grande cultura». A poesia de Filinto Elísio, «de extraordinária qualidade», brota de «um escritor limpo», sendo leitor de Horácio e Virgílio. E esclarece que a poesia latina não tinha rima, porque era escrita como música, para ouvir.
Rita Marnoto louva Senos da Fonseca como «estudioso e investigador», afiançando que se trata mesmo de «um historiador insuperável». Realça as «biografias romanceadas» que escreveu e considera que a sua formação em engenharia «reaparece nos seus livros». «A frase não desanda enquanto tudo não estiver certo», disse.
Segundo a apresentadora, esta obra de Senos da Fonseca «é muito mais do que uma peça de teatro, porque o leitor fica a conhecer a história de uma época, ficando ainda a saber que Filinto «não era um herege», mas um padre de vistas largas e de espírito aberto ao mundo». E acrescenta que o autor, com os seus conhecimentos da navegação costeira, usa uma «linguagem dialetal com efeito dramático», oferecendo-nos imagens da mulher ilhavense, «destemida e carinhosa», realçando a «doçura da mãe», e do homem, «determinado e trabalhador».
«Esta peça pede palco!» Com esta exclamação, Rita Marnoto enfatiza a necessidade de mais público apreciar Filinto, ao mesmo tempo que divulga o acordo estabelecido com Senos da Fonseca, que classifica como a pessoa que mais sabe sobre o poeta com raízes ilhavenses: «Vim fazer a apresentação desta obra, com a condição de o engenheiro prometer escrever uma biografia de Filinto Elísio». E o engenheiro não rejeitou o desafio.
A peça sobe ao palco, no Centro Cultural de Ílhavo, dia 31 de janeiro, pelas 17 horas. Com encenação de José Fino, será apresentada pelo Grupo de Teatro Ribalta.
Fernando Martins