sábado, 9 de janeiro de 2016

Festa do Baptismo de Jesus

Reflexão de Georgino Rocha

Pintura do Batismo de Jesus Cristo: Estou baptizado. 
Vivo como cristão?

As festas natalícias convergem para o baptismo de Jesus ocorrido no rio Jordão e celebrado por João Baptista. Convergem e abrem novos horizontes à compreensão da sua pessoa e da missão que lhe está confiada. O menino de Belém portador de paz e fonte alegria, o adolescente de Nazaré fiel aprendiz da vida familiar e da arte do artesão, o orante contemplativo das maravilhas de Deus na humanidade e na criação, surge agora como homem adulto entre os pecadores que demandam o baptismo de penitência.
João acolhe-o e tem com ele um diálogo eloquente e assertivo. Aceita fazer o que lhe pede. Deixa que mergulhe nas águas do rio, se banhe como qualquer outro penitente, assuma os pecados de quem se baptiza quais limos que se pegam ao seu corpo e lhe introduzem marcas profundas, viva a experiência original da humanidade ferida. Jesus, entretanto, entra em profunda e expressiva oração.

Lucas, que narra o sucedido, apresenta com realismo surpreendente o que, vai acontecendo. Abrem-se os céus, desce o Espírito, em forma corporal e ouve-se uma voz que declara: “Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência”. A manifestação de quem é Jesus atinge a expressão plena: Ele é o filho de Deus. A declaração feita em público, a céu aberto, é selada pelo Espírito divino e testemunhada por quantos se encontravam na fila dos penitentes. Ele, o pobre galileu, o desconhecido entre os familiares e ignorado pela vizinhança, ( quando regressa à sua terra e fala pela primeira vez na sinagoga, a reacção dos presentes é elucidativa), vê-se agora proclamado como o homem em quem Deus se compraz e identifica. Que admirável contraste! A grandeza da simplicidade, a eloquência do silêncio, o valor da vida em família. Que exemplo estimulante para a conversão de tantas aspirações do coração humano e de tantas atitudes desviadas dos comportamentos éticos.
Robustecido por esta experiência original e apoiado na aprendizagem com os familiares e vizinhos de Nazaré, Jesus inicia a sua missão de profeta itinerante do reinado de Deus, procurando atrair as pessoas para a novidade admirável de Deus ser Pai e de todos os humanos serem filhos de Deus e irmãos entre si. E vai prosseguir esta missão incansavelmente, até que lhe abafam a voz da paixão e cortam a energia da vida pela morte da cruz no calvário.
Em Jesus e por Jesus, a comunhão dos humanos com Deus é imediata, pessoal e filial. Os céus ficam abertos. A palavra ecoa com novidade inaudita. O Espírito está presente e actuante. A fraternidade universal é uma realidade que a todos envolve e mobiliza. O espaço público converte-se em campo de missão. E Deus Pai “regala-se” ao ver o que acontece em seu Filho ao assumir não apenas a condição humana, mas a condição dos pecadores, dos feridos na dignidade, dos desprezados e desconsiderados em todos os escalões da sociedade organizada e em todos os tempos da história. É a partir daqui que Jesus cria o movimento que vai crescendo progressivamente e envolve todos os que se deixam atrair livremente pelo amor e pela verdade de Deus Pai. E assim lança o dinamismo que vem a tomar corpo na Igreja e a fazer de nós filhos de Deus, membros da comunidade cristã.
A dignidade humana humana é potenciada por esta energia divina. Somos cidadãos-cristãos-discípulos missionários. Somos testemunhas de um Deus que é Pai, de uma religião centrada em Jesus Cristo, de uma humanidade de pessoas fraternas e iguais. Cultivamos um estilo de vida que é espelho irradiante desta dignidade: pela sobriedade solidária, pela honradez contagiante, pela piedade compassiva, sobretudo para com os desconsiderados na sociedade e na Igreja, pela benignidade crítica que sabe discernir as situações, tendo como referência ética a dignidade, a justiça e a misericórdia.
A esta luz, posso honestamente responder à questão fundamental: Estou baptizado. Vivo como cristão discípulo missionário de Jesus?

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