quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Burnout

Crónica de Maria Donzília Almeida




«O nosso jovem Ministro da Educação 
será a luz ao fundo do túnel?»

A aposentação é um patamar na vida do cidadão trabalhador, muito desejada por muitos, uma miragem para tantos. É o corolário de toda uma vida de trabalho.
Agora, à distância, permito-me fazer a retrospetiva…
Durante o período de vida ativa, qualquer cidadão, seja homem ou mulher, vive assoberbado com compromissos profissionais e familiares que lhe saturam o tempo.
O desgaste, a fadiga crónica, o stress da profissão, levam até, ao síndrome do Burnout. Este ocorre em profissionais que lidam com pressão constante no seu dia-a-dia, por longo período de tempo. Estão nesse grupo, os profissionais de saúde, forças de segurança, agentes educativos, nomeadamente os professores.
Hoje, em dia, o professor desempenha muitos papéis, que transcendem as suas competências. Tem de ensinar jovens que não querem aprender e boicotam, sistematicamente, o trabalho da aula. A indisciplina grassa nas escolas.
Foram muitos anos a lecionar, a conviver diariamente com os problemas de alunos, pais e comunidade escolar. 
A classe docente, com características muito particulares, deveria ser encarada com respeito, pois lida com matéria prima muito delicada – o ser humano. Ser professor é uma missão nobre, pois lhe cabe a sublime tarefa de lapidar diamantes brutos. 
Na busca de soluções para os problemas do seu mister, os professores vão verbalizando o seu desencanto, a sua frustração, nos pequenos breaks do cotidiano, em que param para respirar. 
É pedido ao professor que faça um ensino individualizado; no entanto, com a dimensão das turmas e o elevado número de alunos problemáticos e NEEs, (Necessidades Educativas Especiais) transforma-se numa missão quase impossível. Tem que se confrontar, diariamente, com crianças que vivem em contextos familiares desestruturados, e que, por isso, testam as regras até ao limite, exigindo do professor um jogo de cintura permanente. 
Há pais que consideram os professores como os únicos responsáveis pela educação dos filhos, delegando neles todas as suas competências. Alguns até atiram pedras a quem lhes acolhe os filhos, com a conivência da instituição. 
Os professores são alvo de críticas, sendo realçados os seus insucessos e raramente reconhecidos os seus êxitos, mesmo no relacionamento interpares. Não há espaço para o louvor…só no dicionário! É um setor de atividade, onde a deontologia de classe é pura utopia. 
A desvalorização/desautorização do professor gera desânimo e desmotivação. O horário de trabalho na escola cresceu, exponencialmente, nos últimos anos, não correspondendo a um incremento do sucesso escolar. O professor vive atolado numa panóplia de tarefas, um mangas de alpaca da escola hodierna. 
Esta situação tem gerado na classe docente um sentimento sub-reptício de contestação, sobretudo porque esse tipo de trabalho é sentido como excessivo e inútil. Tudo isto faz da profissão docente uma das mais vulneráveis ao síndrome de burnout.
O estado de exaustão começa com o sentimento de desconforto, que vai progressivamente aumentando, à medida que o entusiasmo de lecionar diminui. Traduz-se em sintomas físicos como dores de cabeça, oscilações de humor, distúrbios do sono, etc
Face ao exposto, torna-se urgente à tutela, repensar as políticas educativas, envolvendo e auscultando mais os professores que estão no terreno, nas medidas a adotar. 
A escola perdeu a alma e quem ainda lá está, sente-o na pele. Há uma competição desenfreada e uma política de show-off. É urgente devolver aos professores o carisma e a reputação, dado que sem eles o seu pleno desempenho estará comprometido. 
Novo governo, nova tutela… devolver-nos-ão a esperança no amanhã? 
O nosso jovem Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues será a luz ao fundo do túnel?
Espera-se que a semelhança com a sua antecessora Maria de Lurdes Rodrigues, tão contestada pelas polémicas reformas que implementou…esteja apenas no sobrenome…

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