Reflexão de Georgino Rocha
na humildade da natureza humana;
está a vir nos gestos
de solidariedade e tolerância»
Esta exortação é feita por Jesus aos seus discípulos, pouco antes de iniciar o processo da paixão. Tinha falado de perseguições a pessoas, de destruições de casas e do Templo. Agora alarga os horizontes e menciona o cosmos inteiro: o céu, a terra, o sol, a lua, as estrelas. E garante “ as forças celestes serão abaladas”. Não admira que, perante o caos anunciado, haja ansiedade e medo, angústia e dor.
As forças celestes são frequentemente entendidas como o rosto dos deuses que presidiam à constelação religiosa de muitos povos. Era-lhes tributado culto com grande e convicta devoção. Pessoas, coisas, ritos e festas “giravam” à sua volta e dos santuários a eles dedicados. Em linguagem típica apocalíptica, Marcos, Mateus e Lucas, narram a transformação final do mundo, da história, e o início da “nova era” com a chegada de Jesus ressuscitado, vencedor da morte e vivo para sempre.
Esta vinda é fonte da grande esperança que os discípulos são convidados a viver, sobretudo nos períodos de angustiosa tribulação. É a razão principal do Advento celebrado pela Igreja que, hoje, se inicia. É a garantia que o nosso futuro definitivo está nas mãos de Deus que cumprirá fielmente as promessas feitas por Jesus Seu Filho e nosso Senhor.
Importa, por isso estar atento e viver a certeza de que a nossa libertação está próxima e não deixar que a consciência seja anestesiada, o coração dominado pelos impulsos descontrolados, a inteligência viciada pelas meias verdades ou mentiras rotundas, a sensibilidade adormecida pelos cantos de sereia que a publicidade sedutora inventa e a tantos deslumbra e arrebata. “Estai sempre despertos”, procurai compreender os sinais que irrompem à vossa volta, sede diligentes na resposta a dar aos desafios ocorrentes, confiai e aguardai o Senhor que vem.
O Senhor vem para rectificar a nossa religiosidade e reencaminhar o nosso desejo de verdade, para abrir caminhos novos à nossa miopia de bem-estar solitário e de indiferença, para propor um outro projecto de vida alicerçado no amor de doação incondicional, regenerador das “feridas” e gerador de novas energias; projecto que nos leva a Deus e, se correspondermos, nos faz felizes.
A mensagem do Advento do Senhor Jesus tem uma actualidade enorme. Ao medo assustador, há que opor a confiança fundada. À violência extrema, a paz que é fruto de um coração manso e humilde, sensível à justiça e impregnado de caridade. À retaliação intimidatória, o diálogo da verdade que desarma e gera a coragem prudente. Enfim, à consciência “ensonada” pela sedução da publicidade e propaganda enganosas, o apelo veemente a que desperte e criticamente assuma a sua função de ser luz da verdade que nos guia e liberta.
O Senhor Jesus já veio na humildade da natureza humana; está a vir nos gestos de solidariedade e tolerância, na palavra revelada e na celebração da liturgia; há-de vir na glória do seu triunfo sobre todas as maldades do mundo e fazer brilhar a alegria e paz para sempre. Aguardemos e trabalhemos para que a sua vinda nos mantenha vigilantes, activos e cooperantes.