Crónica de Maria Donzília Almeida
A receção do postal foi o Leitmotiv para a dissertação sobre o tema.
Trazia como mensagem escrita, um elogio rasgadíssimo ao meu rebento.
O efeito foi tão intenso, quanto o inesperado da situação.
Entregue em mão própria, teve a magia que só o elogio
na sua verdadeira essência pode produzir.
“Quem meus filhos beija, minha boca adoça!” Senti, na pele, a força do aforismo popular. Provinha de uma pessoa que eu mal conhecia, apenas de fortuitos encontros na vida social da nossa vila. Logo visualizei aquela senhora que, no meu imaginário, eu assemelhava a Christine Lagarde, pela elegância do porte e tom argênteo do seu cabelo.
— Deve ter uma sensibilidade humana fora do comum! — pensei com os meus botões. Um simples gesto, postura ou apenas a espontaneidade do filho a terão induzido àquele discurso elogioso.
O mundo em que vivemos privilegia a mediocridade. Quanto mais um indivíduo se destaca pelas suas virtudes, mais pernicioso ele é, pois gera mal-estar. Na tirania da mediocridade, admitir a virtude em outrem é vê-la negada a si próprio. Melhor, negá-la a todos por igual. Houve um tempo em que nada era mais inspirador que estar na presença da virtude, da competência, da sabedoria. Hoje, tornou-se incómodo, desconfortável… até ofensivo.
A função de um líder, na antiguidade, era personificar uma ordem hierárquica e garantir sua manutenção. A função de um líder hoje, ao que parece, é representar a mediocridade reinante e perpetuá-la.
Num mundo ideal, como eu concebo, um líder deveria promover o desenvolvimento, a evolução. Um mundo em que se debatessem valores, virtudes e em que o mérito seria reconhecido como a bússola fundamental para que saibamos para onde queremos ir.
Há sempre os que se destacam: os mais corajosos; mais inteligentes; mais íntegros; mais caridosos que merecem reconhecimento. Negar esse mérito é negar a possibilidade de que sejamos, um dia, melhores do que somos hoje.
Os terapeutas que trabalham com famílias, divulgaram numa recente pesquisa, que os seus membros estão cada vez mais frios, mais intolerantes, não se valorizam as qualidades e facilmente se tecem críticas. As relações tornaram-se efémeras.
Vamos elogiar o bom profissional, o aluno empenhado, a ética, o comportamento dos nossos filhos. Vivemos numa sociedade em que cada um precisa do outro; é impossível uma pessoa viver isolada numa ilha e sentir-se feliz. Os elogios são forte motivação na vida agitada de cada um. Nos tempos que correm a crise é desculpa para que, quem ainda tem poder, faça sentir os seus semelhantes como súbditos descartáveis. Não se elogia, ninguém dá uma palavra amiga, ninguém diz que aquilo que fazemos está bem feito. Um elogio não só fortalece a autoestima como também aumenta a motivação.
Relembro aqui, as sábias palavras de Dale Carnegie, o patrono das Relações Humanas: “Seja sincero na apreciação e pródigo no elogio!”
Estudos revelam que não se deve ter apenas funcionários satisfeitos, mas também comprometidos, pois esse envolvimento faz com que eles demonstrem uma disponibilidade acrescida. Embora o maior envolvimento resulte de vários fatores como satisfação pessoal, progressão na carreira, ter um break a meio da manhã, confirma-se que a principal característica dos gestores bem-sucedidos é o facto de estes demonstrarem reconhecimento de forma frequente e eficaz, em suma, elogiarem.
Parece que, a nível nacional, a maior parte das chefias tem de aprender a fazê-lo, pois haverá colaboradores mais satisfeitos, como mais empenhados. Segundo os especialistas, há razões para acreditar que o elogio é um passo crucial em ambiente de negócios como no relacionamento profissional.
Para os experts da área de neurologia, o reforço positivo, o incentivo funcionam melhor que a punição, em ambiente escolar, pois a dopamina, libertada pelo cérebro, nos momentos de satisfação, é um elemento químico poderoso. No meu setor de atividade, é uma ferramenta de trabalho, já que está presente no quotidiano da nossa prática pedagógica.
O elogio desperta nos corações sentimentos puros de grande prazer. O americano William James disse : ” Uma das características mais profundas da natureza humana é a necessidade que esta tem de ser apreciada e o elogio é uma forma de reconhecimento”.
O elogio resgata o afeto e é como se acendesse uma luzinha dentro do cérebro com a frase cintilante “eu sou importante”. Saber que o outro presta atenção aos nossos atos, que tem apreço por nós, faz-nos investir na vida com afinco e responsabilidade e promove segurança interna. Aqui, a sinceridade está em jogo. Quando esbarra na bajulação, perde o sentido. Subjacentes estão interesses mesquinhos como tirar vantagem e interesse de alguma coisa ou de alguém.
O elogio é prática recorrente no meu relacionamento humano, mas no dia 13.06.2015, além de agradecer, elogiei a generosidade do santo pela rega copiosa que deu ao meu jardim e horta, reduzindo-me a conta da EDP. Bem haja Stº António!