A disponibilidade de Maria é total, e incondicional a sua entrega. Após uma saudação que a felicita pela graça alcançada e um diálogo que lhe desvenda a densidade do futuro próximo, o seu “sim” é pleno e definitivo, alegre e confiante. Deus quere-a senhora e ela, por amor, faz-se escrava. Lc 1, 26-38. Ele enche sempre as mãos vazias e acolhedoras dos que confiam na sua promessa.
O episódio tem lugar em Nazaré, aldeia da Galileia com uns cem habitantes. O protagonista é o anjo do Senhor que vem a casa de Joaquim e de Ana. A mensagem expressa-se no convite para ser mãe de Jesus, o Filho do Altíssimo. O ambiente deixa “respirar” simplicidade e o silêncio faz pressentir a sublimidade do acontecimento. O interlocutor é uma jovem virgem em estado singular: já não “pertence” à família por estar “comprometida” com José, nem ao esposo e seus familiares por ainda não terem celebrado publicamente a boda ritual. Tudo ocorre no espaço onde Maria se encontra, na vida fecunda do lar onde se cultivam as mais nobres tradições e forjam os grandes ideais: o amor de doação, a mútua ajuda na relação, a integridade na educação, a memória agradecida do passado, a esperança confiante no futuro, a leveza no perdão e a elevação na oração. Deus inclina-se para ela e para todos os que encontra disponíveis.
Maria, a agraciada do Senhor, em resposta ao convite-apelo dá uma orientação mais profunda à sua vida, ao seu estado de ânimo existencial. A feliz esperança do Messias vai realizar-se de modo admirável. Ela é a contemplada, a eleita entre todas as mulheres, para ser a mãe do Messias, tão ansiosamente aguardado. Ela vê confirmada, em si, a expectativa secular do povo judeu. O seu “seja como queres” abre caminho a uma nova e definitiva época da história da salvação.
Maria, a virgem-mãe de Nazaré, é a mulher da palavra. Sabe acolher e escutar o mensageiro, dialogar com ele para aprofundar o conteúdo do “mistério”, interiorizar a feliz mensagem, disponibilizar-se para ser cooperante activa, nas mãos do Senhor. A fé confiante envolve toda a sua vida e capacidades. Nada fica de fora, nem o uso do tempo nem a reserva de energias. É fé em crescimento, acompanhando com a razão e guardando no coração as surpresas que, o desenrolar da missão de Jesus, lhe provocam.
A grandeza de Maria prolonga-se, agora, em cada um de nós que, no dia-a-dia, tem coragem de dizer sim, sendo fiel aos apelos do Senhor que provêm de tantas maneiras e encontram eco na nossa consciência: a voz dorida dos famintos de dignidade, o grito entristecido dos torturados e perseguidos pela fé religiosa, o silêncio provocante dos sobrantes descartados da sociedade do conforto, e tantos outros. Todos temos uma palavra a escutar e a dizer e que, no fundo, se vem a identificar com a atitude de Maria: dar vida a Jesus em nós e, por meio de nós, a outros que aguardam, confiantes, essa feliz oportunidade e indispensável ajuda.