Reflexão de Georgino Rocha para este tempo
A manhã de Páscoa desperta serena com Madalena agitada a correr para o túmulo de Jesus. Era ainda escuro. Mas já raiava o clarão da aurora que se avizinha. Corre para sintonizar com o ritmo do seu coração, com o desejo de prestar os últimos cuidados ao cadáver de Jesus, com a vontade de certificar mais uma vez o sucedido, com o “pressentimento” de que algo de novo pode acontecer, pois o amor é mais forte do que a morte. A saudade revela-se um bom caminho para o encontro da verdade.
Chegada ao local, depara-se com o sepulcro vazio e tudo arrumado “a preceito”. Pelo seu espírito perpassa a certeza afirmada: Levaram o Senhor e não sabemos onde O puseram, certeza que transmite a Simão Pedro e ao discípulo amado. Estes partem imediatamente para confirmar a notícia, seguindo cada um a cadência do seu passo. Chegam, aproximam-se, observam, entram no sepulcro e vêem que a realidade condizia com o que lhes havia dito Maria Madalena.
Este núcleo central da narrativa da ressurreição é enriquecido pelos Evangelhos com muitos outros aspectos, surgindo sempre o testemunho de quem O vê e a novidade que provoca na sua vida. Madalena é protagonista de um grupo de mulheres que se adiantam na descoberta dos sinais do Ressuscitado. São elas que levam aos apóstolos o anúncio da feliz notícia. São elas que fazem da inquietação do coração caminho de fé pascal. São elas que experimentam a desolação do vazio como espaço a preencher, oportunidade de plenitude a alcançar. Que bela mensagem e que interpelação! O rosto feminino da Páscoa – de todas as passagens marcantes da vida – fica impresso definitivamente na humanidade e na vivência cristã.
João – o discípulo amado – viu e acreditou. Que preciosa e provocante afirmação! Então até agora não tinham ainda acreditado, não haviam alcançado a fé, não estavam em comunhão com Jesus ressuscitado? O autor da narração adianta a explicação assertiva: “Não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”. Esta explicação tem valor definitivo. Sem fé explícita em Jesus ressuscitado, apenas vemos sinais, ritos, cerimónias, gestos religiosos, liturgias; e é preciso passar do visível ao Invisível, da aparência à realidade, do episódio ao constante, da árvore vistosa à seiva vitalizante que, constantemente, a revigora, da fome do coração vazio à busca do pão saboroso que sacia.
Que “limpeza” purificadora será necessário fazer nas cerimónias oficiais da Igreja, nas celebrações comuns da comunidade cristã, nas formas de piedade popular e familiar para que sejam cada vez mais espelho do Senhor ressuscitado, da sua alegria pascal, da sua palavra que dá sentido definitivo à vida! E que deslumbrante missão nos está confiada – a de sermos suas testemunhas qualificadas porque vimos e acreditamos.