Crónica de Maria Donzília Almeida
Maria Donzília Almeida |
É do conhecimento geral, que muitas das grandes convulsões sociais têm o seu embrião nos Estados Unidos da América. Aí germinam, crescem e explodem.
Assim, a comemoração da data de hoje teve também origem nesse país. Em 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas, para 10 horas, por dia. Estas mulheres que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, tendo sucumbido 130. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o 8 de março como "Dia Internacional da Mulher" em homenagem àquelas lutadoras. Desde então, o movimento a favor da emancipação da mulher tem subido de nível, chegando até a alguns exageros, como se constata nos movimentos feministas, um pouco por todo o mundo.
Pretende-se chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher e levar a uma tomada de consciência do valor da pessoa, perceber o seu desempenho na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher.
Conta uma velha história que após ter criado o homem, o Criador verificando que ele se sentia muito sozinho e triste no paraíso, um dia lhe fez esta pergunta:
—Meu filho, para atenuar a tua solidão, tu queres um companheiro ou uma companheira?
Adão, esboçando um sorriso expectante, retorquiu de imediato:
— Uma companheira, meu Pai!
Conta ainda a história que Deus apontando o dedo indicador e rodando-o, a meio da barriga de Adão, lhe respondeu:
— Malaaaandro!
Referem as crónicas que estava criado o umbigo!
Considerando que a mulher é o anjo da paz, no seu papel maternal e de companheira que dá sentido e brilho à vida do homem, nem sempre este a tem tratado ao nível em que os poetas e os artistas a colocam – num pedestal (!?)
Apesar das conquistas alcançadas pela mulher, ainda estamos perante uma realidade muito preocupante, muito aquém do desejável. Indicam as estatísticas que a violência de género ainda apresenta índices muito elevados. Muitas ainda sofrem no silêncio dos seus lares, a violência física e a prepotência psicológica dos maridos ou companheiros e encobrem a identidade dos agressores.
No que me toca, como sex-age-nária assumida, acho que, sinceramente, há ainda uma grande distância a percorrer, até a mulher ser tratada com a dignidade e respeito que merece. Tendo em conta a quantidade de papéis que lhe são atribuídos, na família, na sociedade, nas coletividades, enfim, em todo o lado onde exerce uma ação interventiva, esse reconhecimento deveria ser-lhe feito, unanimemente. Não seria preciso uma data única no calendário, para lembrar aos esquecidos que a MULHER é um ser de pleno direito!
Nos restantes dias do ano, continua a atropelar-se os direitos adquiridos, a ignorar as suas capacidades, a descartá-la quando já não cumpre aquilo que se espera e exige dela?
Antes de comemorar um dia do ano, a favor da mulher, dispa-se a hipocrisia humana que a maltrata no tempo restante.