Uma reflexão semanal
de Georgino Rocha
A vida humaniza-se por meio das escolhas que fazemos. Somos colocados continuamente perante o desafio de organizar a nossa escala de valores, dando prioridade aos mais importantes e decisivos. À luz do bem definitivo e supremo. Não apenas da satisfação imediata, que deixa um vazio angustiante. Seria, a título de exemplo, o caso do sedento que encontra uma fonte e não cessa de beber pelo prazer que sente enquanto não esgotar a fonte. E depois, perante nova necessidade? O momento feliz dá passo à situação de ansiedade traumatizante. Qual de nós não passou por experiências semelhantes? E que bom seria que todos soubéssemos valorizar o momento no todo do tempo que nos é dado viver! O Papa Francisco elogia esta sabedoria.
Jesus conhece bem o ser humano e, por isso, faz-lhe propostas de aprofundamento dos seus ritmos vitais e oferece-lhe ensinamentos que rasgam horizontes de infinito às suas aspirações mais profundas. E lança o apelo/convite à aceitação cordial, ao seguimento coerente, ao realismo consciente, à caminhada persistente que, passo-a-passo, se aproxima da meta desejada. “A cada dia basta o seu cuidado” – garante aos discípulos como forma de expressar e viver a opção pelo reino de Deus e a sua justiça.
O método que usa é o do contraste pedagógico: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. A linguagem é taxativa. Não admite subterfúgios. O coração humano – que é único e original – só tem espaço definitivo para um absoluto. Em Deus está a medida infinita ,medida que se reduz o suficiente para se adaptar bem às capacidades e limites, aos ritmos apaixonados, às ânsias insatisfeitas de cada um de nós.
O dinheiro surge como o conjunto de bens com pretensões de absoluto, de deus ao serviço das satisfações de momento, das cobiças absorventes, das preocupações obsessivas. Assim, fecha o coração, desfaz a relação, desvia a aspiração, desestrutura a hierarquia de valores, inverte as prioridades na escala da vida pessoal e social. “Esta economia mata” – garante Francisco na exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”.
“Confia em Deus e faz o que podes” é certamente a atitude cordata a ter pelos discípulos/cristãos. E, como um bom mestre contemplativo da natureza, Jesus aduz o exemplo das aves do céu e dos lírios do campo, a superioridade da vida e do corpo em relação ao alimento e ao vestuário, a primazia da solicitude de Deus pelo/a homem/mulher que sabem confiar no seu amor paternal.
Que exortação tão humanizante! Serena o espírito, liberta energias atrofiadas pela ansiedade, reduz o stresse de quem vive antecipadamente o que não chega a acontecer, concentra forças e recursos naquilo que é possível, refaz a confiança e potencia capacidades. Traça e realiza o perfil do homem novo que Jesus preconiza nas bem-aventuranças.