António Gandarinho |
António de Jesus Gandarinho, 79 anos, casado com Evangelina Filipe Teixeira, aposentado da função pública, cinco filhos, três netos e um bisneto, é um membro ativo da comunidade católica da Gafanha da Nazaré. Pessoa sóbria, está ao serviço da Igreja para o que for preciso, demonstrando uma disponibilidade exemplar, apesar das suas limitações de saúde. E é assim desde muito novo.
Operário da construção civil desde tenra idade trabalhou cinco anos nas obras de remodelação da igreja matriz, na paroquialidade do Padre Domingos Rebelo, período em que, durante uns tempos, desempenhou funções de sacristão, sucedendo a Manuel Pata, que ocupou o cargo 33 anos. Mas essas tarefas ainda as exerceu, esporadicamente, em substituição dos sacristães, por razões diversas.
António Gandarinho aderiu à JOC (Juventude Operária Católica), um organismo da Ação Católica vocacionado para a formação da juventude trabalhadora, quer sob o ponto de vista espiritual, quer humano e cívico, do qual foi dirigente da secção da Gafanha da Nazaré. E quando mais tarde emigrou para a Alemanha não esqueceu os seus compromissos cristãos assumidos na Ação Católica.
Sabemos, por experiência própria, que o nosso entrevistado foi um dirigente atento e preocupado, chegando a visitar os militantes quando faltavam às reuniões. Era preciso que todos vivessem, no dia a dia, o famoso e ainda atual método do seu fundador, Joseph Cardijn, assente no Ver, Julgar e Agir, que levava ao conhecimento dos problemas dos jovens, julgando-os à luz dos princípios cristãos, para depois se atuar em conformidade com a doutrina social da Igreja, tendo por meta fundamental a dignificação da juventude trabalhadora, numa época em que não havia sindicatos livres e à altura de defenderem, com legitimidade, os seus interesses e valores.
Quando se casou, em 1960, aderiu à LOC (Liga Operária Católica), cujo espírito segue os mesmos princípios ensinados por Cardijn, mas tendo no horizonte os trabalhadores casados e mais adultos, obviamente com outros problemas. Porém, fez questão de evocar, com um sorriso de normal saudade, «um acampamento da pré-JOC e da pré-JOCF, em S. Jacinto, com os meninos instalados em tendas junto à igreja da Senhora das Areias e as meninas nas instalações de uma seca de bacalhau», assistidos pelos dirigentes.
Quem participa em funerais católicos na Gafanha da Nazaré constata que o António Gandarinho é presença assídua. Chega antes da cerimónia religiosa, apresenta os seus pêsames aos enlutados e reza pela alma do falecido, levando os crentes a acompanhá-lo. Faz isto na qualidade de irmão das Irmandades de Nossa Senhora da Nazaré, Sagrado Coração de Jesus e Senhor e Almas, às quais pertence por tradição familiar. E quando falou das Irmandades, recordou que antigamente os irmãos, «com estandartes e insígnias, participavam pessoalmente nos funerais, com suas opas, que partiam das residências dos familiares dos que morriam». Os tempos são outros e agora, como é sabido, tudo se concentra na Capela Mortuária, junto à igreja matriz, «onde estão as insígnias das Irmandades».
Nos funerais, António Gandarinho não se restringe aos irmãos das Irmandades, mas a todos, desde que o funeral seja católico. E até nos adiantou que «alguns familiares chegam a pedir-lhe que oriente as orações», o que faz com muito gosto.
O nosso entrevistado, que chegou a integrar a Comissão Fabriqueira, é Ministro Extraordinário da Comunhão há uns 30 anos. «Todos os domingos vou levar o Senhor, na hóstia consagrada, aos doentes e idosos, impossibilitados de se deslocarem às igrejas da Gafanha da Nazaré», disse. Também faz parte dos Grupos Bíblicos, desde a sua criação na paróquia, porque entende que, «sem conhecimento da Palavra de Deus, os católicos não podem dar grande fruto, através do testemunho», fez questão de referir. Por isso, advoga a necessidade de se criarem entre nós mais grupos bíblicos, porque reconhece que «a reflexão sobre os Evangelhos nos ajuda na vida».
António Gandarinho experimentou um projeto inovador para a época, que apostava na construção de casas para trabalhadores, «em regime de cooperação simultânea e solidária». Seis jovens iniciaram a construção de outras tantas habitações, em que a entreajuda era uma constante. «Todos fizeram os alicerces de todas as casas, com projeto único. Logo depois ergueram as paredes e assim sucessivamente até à conclusão das mesmas», frisou.