“Coisas que não há: Sobre a escrita
de Manuel António Pina”
Li num fôlego “Coisas que não há: Sobre a escrita de Manuel António Pina”. Um livro pequeno com apenas 72 páginas, mas que dá ao leitor momentos de prazer, sobretudo se gostar do escritor que, se fosse vivo, teria completado, em 2013, 40 anos de vida literária, como se lê na Nota Introdutória. Organizado por Sara Reis da Silva e João Manuel Ribeiro, o livro reflete um Simpósio que decorreu no Instituto de Educação da Universidade do Minho, em 29 de Maio de 2013, de homenagem ao poeta de O Pássaro da Cabeça. Para além disso, o leitor ainda tem acesso a uma entrevista que Manuel António Pina concedeu a Blanca-Ana Roig Rechou e Sara Reis da Silva.
Algumas ideias:
«A revolução configura, em suma, um tópico relevante na escrita de Manuel António Pina, com óbvias implicações ao nível semântico-pragmático. Estamos perante obras que fizeram de certos valores (tais como a democracia, a liberdade, a justiça social, o direito inalienável de questionar a ordem estabelecida, o direito à revolta…), aspetos indissociáveis de outras dimensões do policódigo literário e pilares fundamentais do seu construto estético.»
José António Gomes
em «Depois das letras revoltaram-se as palavras:
Imagens da revolução em Manuel António Pina»
«A libertação do povo resulta do cansaço de anos de isolamento, censura e opressão, guerra e perseguição que o narrador descreve de forma simples, através de exemplos concretos. A liberdade, uma vez perdida, é vista como um bem precioso, um tesouro injusta e perversamente roubado. Uma vez conquistado, há a esperança de que todas as outras injustiças e desigualdades possam ser corrigidas, daí que a alegria dê rapidamente lugar à festa que se estende a todos , enche as ruas e os corações de esperança.»
Ana Maria Margarida,
em «Sobre as ilustrações de O Tesouro,
de Manuel António Pina,
ou diferentes formas de recriar a liberdade»
«Espaços (im)prováveis de literatura, as Crónicas de MAP são cruzados por referências a autores e a obras diversas. Desde Tintim e o Capitão Haddock, passando por Shakespeare e por Jonathan Swift, até Pessoa, Eugénio de Andrade, Ilse Losa ou o incomparável (para Pina) Winnie-The-Pooh (um dos livros da sua vida, como sempre afirmou), as alusões multiplicam-se e dão conta de uma escrita sobre a realidade, o “curso dos dias” e as circunstâncias que, por vezes, apenas fazem sentido se vistas à luz de um outro olhar ou de um olhar que apenas a literatura poderá ajudar a aclarar.»
Sara Reis da Silva,
em «Alice e Carroll do outro lado
de Manuel António Pina»
«A infância é algo, julgo que já uma vez o escrevi, que só se tem quando se perde. Quando somos crianças, estamos perto de mais da infância para nos apercebermos dela. Mais tarde, olhamos para trás e descobrimos confusamente que perdemos algo; damos o nome de infância a essa perda e partimos desamparadamente e inutilmente em sua busca. Procuramo-la, por exemplo, na literatura, que é uma forma misteriosa da memória.»
Manuel António Pina,
na entrevista