quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Famílias tradicionais da Gafanha



Assento de óbito de António Ferreira
Fonte: A.D.A., S.Tiago de Vagos, Óbitos, Lv. nº 16, Fl .nº 11-verso.
Foto obtida sob autorização do A.D.A.


CURIOSIDADES À VOLTA DE ALGUNS NOMES
 DE FAMILIA TRADICIONAIS DA GAFANHA

Orquídea Ribau

Como em qualquer outro universo comunitário, alguns nomes de familia, ainda hoje utilizados na Gafanha, têm uma origem muito particular e um pouco à revelia das diferentes“normas” aplicadas ao longo do período compreendido entre a fixação dos primeiros habitantes, no final do séc. XVII, e o final do séc. XIX. Esses nomes adoptados adquiriram tal importância dentro da comunidade que fizeram mesmo desaparecer um ou mais apelidos familiares oficiais. Eis alguns exemplos:

SARDO – Surgiu como alcunha. António Ferreira, assim se chamava o visado, obteve o nome por ser de “cor sardo e cabelo avermelhado”, de acordo com o assento de óbito. Pertencia à família Ferreira, uma das primeiras a fixar-se definitivamente nas areias da “Gafenha” no virar do séc. XVII para o seguinte. Viveu durante a segunda metade do séc. XVIII, e deixou de herança o apelido da familia e a alcunha aos seus descendentes – FERREIRA SARDO. Nas ocasiões em que tinham que mencionar oficialmente a sua filiação, tais como baptismos ou casamentos, os seus filhos identificavam-no como António Ferreira Sardo.
No séc. XIX fixou-se na Gafanha um indivíduo da Murtosa, Mateus Fernandes Sardo, sem ligação aparente à família da Gafanha. Aqui deixou descendentes com esse apelido, que deverá ter uma origem diferente.
O referido António Ferreira Sardo teve um sobrinho, filho de seu irmão mais velho Joaquim Ferreira, de seu nome José Ferreira, a quem, ainda não descobri porquê, apelidaram de “fidalgo”, alcunha que também vingou e se transmitiu como apelido até aos nossos dias - José FERREIRA FIDALGO.


FILIPE – Também numa das primeiras familias que definitivamente aqui se fixaram, a família Fernandes Cardoso, nasceu no primeiro quartel do séc. XVIII Filipe Fernandes Cardoso. Teve vários filhos varões que assumiram como apelidos o Fernandes do pai, seguido do seu nome próprio, Filipe - FERNANDES FILIPE - até hoje.

VILARINHO – Ainda no Séc. XVIII, um membro da família de apelidos “Francisco Sarabando” – outra das tais três ou quatro primeiras famílias que aqui se enraizaram – casou com Maria de Pinho, nascida no lugar de Vilarinho, da freguesia de São Julião de Cacia, conhecida, devido a essa origem, por “a vilarinha”. Os seus filhos passaram a ser os “da vilarinha”, acabando por adoptar oficialmente a alcunha e deixando cair o apelido Sarabando - Fulano FRANCISCO DA VILARINHA. De “da Vilarinha”, a alcunha evoluiu, através dos cento e cinquenta anos seguintes, para “da Veleirinha” e “Vileirinha”, depois para “Veleirinho” e “Vileirinho”, e finalmente para “Vilarinho”, que é a forma correcta e utilizada hoje, ainda que a forma “Veleirinho” tenha sobrevivido na zona sul da Gafanha.

GAFANHÃO – Dois irmãos, primos do anterior, também de apelido Sarabando, casaram em Aveiro em meados do séc. XVIII. Um na freguesia da Apresentação - território que pertence hoje à Freguesia da Vera Cruz - e outro em São Miguel, que hoje faz parte da Freguesia da Glória. Ambos receberam a alcunha de “Gafanhão”, supostamente por serem da Gafanha, embora um deles tenha nascido na freguesia da Apresentação por os pais lá terem vivido alguns anos; até as suas esposas, aveirenses, passaram a ser conhecidas como “Gafanhoa” – ex.: Maria Luiza Gafanhoa, a da Apresentação, no Assento do seu óbito em 1806. Apesar de alguns dos seus descendentes terem mantido o apelido Sarabando, que ainda existe em Aveiro, a alcunha sobreviveu, tendo viajado para o lugar de S. Bernardo, onde um deles casou e a deixou como apelido dos filhos e netos; um outro descendente, Manuel Francisco Gafanhão, já no séc. XIX, regressou às origens familiares com a esposa, e veio enraizar o “GAFANHÃO” na Gafanha.

MARÇAL – Mais um caso idêntico ao FILIPE. Aqui, o patriarca chamava-se Marçal Rodrigues, do lugar do Paço, freguesia de Esgueira, e o filho, que casou na Gafanha em 1837, chamou-se Manuel RODRIGUES MARÇAL, deixando os apelidos aos descendentes.

MARTINHO – Outra situação semelhante às anteriores: Martinho José dos Santos veio do lugar de Santiago, freguesia de São Miguel de Aveiro. Os seus descendentes, presentes na Gafanha a partir de meados do Séc. XIX, adoptaram os apelidos DOS SANTOS MARTINHO.

Fonte: Galafanha

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