Georgino Rocha |
«A relação de confiança é fundamental ao ser humano e à convivência em sociedade. Destruí-la é lesar o vínculo que nos humaniza e abre ao transcendente, a Deus.
Como é urgente recuperar esta componente da nossa humanidade! Em todos os âmbitos, sobretudo nos espaços educativos e religiosos, nas instâncias que têm como missão servir o bem comum.»
Georgino Rocha
Lucas, médico de grande sensibilidade e ternura, anota as “intenções” dos que seguiam Jesus e o contraste que se ia acentuando. Os indesejados da sociedade escutam-no com interesse. Os defensores da ordem estabelecida fazem-se ouvir em comentários críticos. Publicanos e pecados aproximam-se. Fariseus e escribas distanciam-se. Jesus, como sábio narrador de contos e “histórias”, aproveita a circunstância para realçar, uma vez mais, a sua missão de dar a conhecer o autêntico rosto de Deus Pai. E que bem que o faz!
Recorre a exemplos da vida corrente: pastor que busca a ovelha perdida, dona de casa que procura moeda desaparecida e pai de dois filhos com comportamentos diferentes. Em cada um destes casos, destaca traços que configuram o modo de ser e agir de Deus: o apreço pela harmonia e proximidade que se alteram inesperadamente: a ovelha perdida do rebanho, a dracma desaparecida na casa da dona e o jovem aventureiro ansioso de liberdade e de novas experiências.
Este apreço constitui uma autêntica novidade que supera a simples tolerância e se situa no amor generoso. Novidade provocante numa sociedade que dificilmente aceita o diferente, respeita o diverso, admite o estranho.
Outro traço do rosto de Deus que Jesus quer reconfigurar no coração dos ouvintes é a confiança em restabelecer a relação vivida: o pastor acarinha a sua ovelha, a mulher limpa a sua moeda, o pai desfaz-se em atenções afectuosas para com o seu filho. A relação de confiança é fundamental ao ser humano e à convivência em sociedade. Destrui-la é lesar o vínculo que nos humaniza e abre ao transcendente, a Deus.
Como é urgente recuperar esta componente da nossa humanidade! Em todos os âmbitos, sobretudo nos espaços educativos e religiosos, nas instâncias que têm como missão servir o bem comum.
Lucas insiste – as três parábolas terminam expressando o mesmo sentimento – na alegria como fruto do reencontro, da comunhão reatada, da recomposição alcançada. Alegria partilhada com a família e os criados, com vizinhos e amigos. Alegria humana, símbolo da alegria vivida no convívio de Deus connosco, seus filhos, no tempo e na eternidade.
Mas, contrapartida, vemos tanto rosto acabrunhado, tantas atitudes de gente cansada e saturada, tanta expressão de notória infelicidade? O contributo da mensagem cristã ajuda certamente a suavizar o impacto das situações difíceis e a transformar as emoções negativas.
As parábolas têm mensagens com outras dimensões: a preocupação solícita, a ousadia na procura e a paciência na espera, a exuberância festiva e a misericórdia sem reservas,
“Alegrai-vos comigo” continua Jesus a dizer-nos, hoje. Vale a pena aceitar o seu convite e fazer-se eco da sua novidade em toda a parte.
Georgino Rocha