RECEBER JESUS EM SUA CASA
«Saber acolher como Abraão que interrompe o seu descanso e se põe ao serviço de desconhecidos, prestando-lhes generosamente os cuidados usuais. Como Marta, a incansável dona de casa, que se esmera na prática das regras da boa hospitalidade. Como Maria, a ouvinte dócil e atenta, que se senta aos pés de Jesus qual discípula fiel. O acolhimento é fonte de enriquecimento mútuo. Como recorda o Papa Francisco na sua recente encíclica: “A fé ensina-nos a ver que, em cada homem, há uma bênção para mim, que a luz do rosto de Deus me ilumina através do rosto do irmão (LF 42).»
Georgino Rocha
Jesus continua a sua caminhada para Jerusalém e aproveita para fazer os seus ensinamentos, ora por gestos e palavras, ora por atitudes e parábolas. Acompanha-o o grupo dos discípulos. Avança por cidades e aldeias. Escolhe o ritmo da viagem. Atende a quem o procura e lhe manifesta um desejo. Toma também a iniciativa de ir ao encontro de quem quer. Para visitar amigos e fazer confidências. Para descansar e revigorar forças.
Seja qual for a razão, Jesus faz de cada passo uma ocasião para dar a conhecer algum detalhe da sua mensagem.
Lucas – o evangelista médico que narra a visita de Jesus a Marta e a Maria – coloca este episódio após a parábola do bom samaritano e antes da oração do “Pai Nosso”. Parece atribuir-lhe uma força emblemática: a situação marginalizada da mulher entre os judeus e a igualdade radical de todos os humanos, a urgência de caminhar para uma sociedade inclusiva que seja espelho do “nosso Pai”, da comum humanidade de todos. E define a correspondente regra de ouro: abrir a porta e saber acolher; escutar e entrar em sintonia, facilitar. Esta regra mantém um valor acrescido na cultura hegemónica que nos envolve.
Abrir a porta da casa, construção material e lar familiar, espaço da consciência pessoal e da dignidade comum, âmbito do diálogo na verdade que liberta e faz crescer. A abertura desta porta pode estar condicionada por factores externos, mas é feita sempre a partir de dentro. A chave por excelência é a fé de adesão cordial e inteligente a Jesus Cristo, fruto da Palavra de Deus. Diz o Senhor: “Já estou à porta e bato. Quem ouvir a minha voz e abrir a porta, entro em sua casa e janto com ele e ele comigo” Ap 3, 20). Não força. Aguarda uma decisão livre.
Saber acolher como Abraão que interrompe o seu descanso e se põe ao serviço de desconhecidos, prestando-lhes generosamente os cuidados usuais. Como Marta, a incansável dona de casa, que se esmera na prática das regras da boa hospitalidade. Como Maria, a ouvinte dócil e atenta, que se senta aos pés de Jesus qual discípula fiel. O acolhimento é fonte de enriquecimento mútuo. Como recorda o Papa Francisco na sua recente encíclica: “A fé ensina-nos a ver que, em cada homem, há uma bênção para mim, que a luz do rosto de Deus me ilumina através do rosto do irmão (LF 42).
Escutar e entrar em sintonia constitui a terceira fase daquela regra de ouro. Assim o mostram os modelos referidos. Escutar e decifrar as mensagens que são transmitidas por palavras e silêncios, por gestos e atitudes. E descobrir neles a pessoa e seu estado anímico e espiritual, o seu drama, a sua aspiração silenciada, o seu sonho adormecido. Entrar em sintonia para reagir positivamente e dar o passo possível. Caminhando juntos, nascemos para novas realidades, abrimo-nos ao horizonte de Deus. “A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida” (LF 4).
Construir solidamente a vida, eis a mensagem que nos é proposta ao acolhemos Jesus na própria casa.
Georgino Rocha