Armando Ferraz,
um artista popular
Armando Ferraz |
A Gafanha da Nazaré pode orgulhar-se de ter entre os seus naturais um artista popular que, mesmo iletrado, se tornou famoso. Foi, decerto, um dos últimos fantocheiros, ao jeito daqueles que andavam de feira em feira a exibir a sua arte. Era ele Armando Ferraz, que morava no «canto dos zanagos», perto do “Zé da Branca”, onde convivia com amigos, saboreando um qualquer aperitivo ou digestivo.
Trabalhava na JAPA e distinguiu-se, entre nós, como artista um pouco de tudo. Foi ensaiador de ranchos e marchas, sendo exímio na preparação de encadeados ou entrançados. Mas a sua arte preferida, aquela que levou até ao fim da vida, foi a dos fantoches, também chamados robertos.
Calcorreou arredores da nossa terra, ensinou na Universidade de Aveiro, aos futuros professores e educadores, as suas habilidades na confeção do necessário para apresentar os fantoches, embrulhados em estórias que ele muito bem sabia urdir e exibir como poucos.
Espólio de Armando Ferraz |
Apresentou-se na Figueira da Foz e no Algarve. Aqui até deixou alguns bonecos e uma palheta para ver se entusiasmava alguém. «A palheta é feita de duas latinhas embrulhadas por uma fita», para poder produzir os sons característicos enquanto falava, explicou, há anos, em entrevista que nos concedeu para o “Timoneiro”.
Trabalhou em escolas e jardins de infância, «a pedido dos professores e educadoras», nas praias e nas feiras. E tudo fazia sem exigir qualquer pagamento, limitando-se a aceitar o que lhe davam. Contudo, muitas deslocações eram da conta de quem o convidava.
Tornou-se fantocheiro aos 14 anos. Viu os robertos numa Feira de Março e quando chegou a casa fez uns à navalha. Vestiu-os, imaginou uma estória e fez rir a bom rir os irmãos. Aos 15 anos, no largo do “Zé da Branca”, enfrentou o público. Disse-nos: «Pelo que vi e ouvi, todos gostaram.» E nunca mais parou.
Como personagens principais tinha o Barbeiro, «que bate nos outros que se farta», o Cliente e a Mulher, o Polícia e o Padre, e ainda o Diabo, o Touro e o Toureiro.
Trabalhou sempre desde os 15 anos. Por morte de sua mãe, os seus robertos ficaram guardados numa caixa durante um ano. Faleceu em 19 de março de 1997, com 73 anos de idade.
Fernando Martins